sábado, 26 de fevereiro de 2011

Comunicado da RECC-CE nº1

A luta pelo Passe Livre: entre divisionismos e boicotes

Recentemente a máfia do Sindiônibus anunciou que queria aumentar em 22% a passagem de ônibus. Esse seria o maior aumento percentual do país. Alegaram que a elevação do preço da tarifa seria em decorrência do pequeno aumento salarial dos trabalhadores rodoviários, que foi de 7%.

A posição da prefeitura/Etufor foi defender um aumento de R$ 2,00 para fingir não fazer parte do mesmo bloco de poder do Sindiônibus. Sabemos que Prefeitura/ETUFOR/Sindiônibus possuem os mesmos interesses, isso ficou muito claro na última greve dos rodoviários em 2010, onde os ataques aos trabalhadores ocorria de maneira sistemática de todos esses setores juntamente com a mídia burguesa.

A máfia dos transportes e a luta dos estudantes e trabalhadores

Cabe resaltar a importância do Sindiônibus em Fortaleza. Este não representam apenas uma empresa que recebe várias concessões fiscais da prefeitura/PT e de Cid/PSB, como o não pagamento do ICMS e do ISS. Ele é na verdade um importante investidor nas campanhas eleitorais e representa um verdadeiro ultra-monopólio com influência política no Estado. Os empresários Chiquinho Feitosa e Jacó Barata possuem juntos mais da metade do controle sobre os ônibus da cidade. Por isso é necessário unificar campanhas estudantis contra o aumento da passagem e pelo passe-livre, com campanhas de rodoviários por reajuste salarial e contra o Sindiônibus/Luizianne/CID, tendo como mote geral a campanha: Todos contra o Sindiônibus.

A prefeita Luiziani/PT diz que a passagem em Fortaleza é a mais barata das capitais do Brasil. O que é uma mentira, pois mesmo Salvador e São Paulo, que possuem passagens mais caras, tem o PIB muito maior do que o nosso. Resumindo, em termos relativos a passagem de ônibus em Fortaleza é a mais cara do país.

Diante dessa situação, um conjunto de militantes formou em novembro de 2010 o Fórum de Luta pelo Passe Livre (FLPL). A primeira pauta foi a batalha contra a intensificação da bilhetagem eletrônica através da implantação do chip da "Libercard" nas carteiras de estudantes. Essa empresa de cartão de crédito é de um dos diretores do Sindiônibus, o que possibilita o controle da meia e sua limitação pelos empresários.

Iniciou-se assim um debate com os trabalhadores rodoviários para organizarmos uma luta em conjunto, na construção de uma verdadeira unidade proletária-estudantil, com estudantes da UECE e UFC, secundaristas e movimento popular através dos atingidos pela Copa. Tirou-se como mote geral Todos Contra o Sindiônibus e a luta pelo Passe-Livre para estudantes e desempregados e a chamada para o primeiro ato contra o aumento de passagem em Fortaleza para 24 de fevereiro, no possível dia de anúncio de reajuste da passagem.

Sobre divisionismos e boicotes

Diante disso o governismo e o para-governismo, inicialmente através do DCE da UFC (PSOL/PSTU) mostrou-se cambeleante perante aos fatos. A ala Psol/Toda Voz ora participava das reuniões, para falar que não havia sentido no espaço do Fórum, ora boicotava o espaço. Mas quando sua base de apoio começou a participar mais organicamente do Fórum estes se viram obrigados a participarem, mesmo que aparelhando-o. A ala PCR/UJR, governista, chamou outro espaço de luta contra o aumento da passagem. E a posição mais burocrática de todas foi a da ANEL/PSTU de tentar convocar outro espaço e recomendado a direção do SINTRO, que estava participando conosco do Fórum, de não participar pois este seria um espaço "anti-PSTU". Não queriam que seus militantes mais sinceros se distanciassem de sua burocracia, mesmo que para isso boicotasse a luta.
O divisionismo provocado pela burocracia para-governista do PSTU, na direção do Sintro e dos DCEs UECE-UFC, convocou até mesmo outro ato no dia da manifestação convocada pelo Fórum. Na clara tentativa de dividir o movimento. Várias reuniões de cúpulas foram convocada pelas burocracias para-governistas através do DCE-UECE e da Conlutas para conter o desenvolvimento autônomo do Fórum. O resultado foi a convocatória para outro ato no dia da manifestação convocada pelo Fórum, mas como estes iam ficar isolados, entraram no Fórum para fazer propagando do seu ato. Posição semelhante foi do PCR, que convocou um ato no mesmo horário do ato do Fórum, divulgando nos mesmos locais que havíamos passado, em uma clara tentativa de confundir os estudantes.

Os boicotes de todos os gêneros, seja o passivo como do PSOL ou ativo como do PSTU, chegando ao aprofundamento do divisionismo, e o paralelismo executado pela UJR, foram faces da mesma moeda, o DCE-UFC. Isso demonstra que a desculpa utilizada para se formar uma chapa de frente de esquerda ao DCE com o intuito de "tocar" as lutas se mostra inválida, pois quando se chega a uma situação real, como a luta contra o aumento da passagem, cada burocracia atua por si.

Desde o começo de novembro de 2010 a tática da Rede Estundatil Classista e Combativa (RECC) foi a de convocar e fomentar comitês de base em cada curso universitário, escola e local de trabalho, para dar caráter real de base ao Fórum e se opor a metodologia de cúpula engendrada pelas burocracias para-governistas ao longo de quase uma década de construção de frentes unitárias sobre a questão do transporte em Fortaleza.

O ato de 24 de fevereiro: entre a ação direta e o parlamentarismo

Luizianne, quando foi eleita em seu primeiro mandato, teve como principais eleitores os estudantes combativos que lutaram contra o aumento da passagem em 2004 e contra as propostas abusivas de Juraci-PMDB. Sabendo disso, em 2011 anunciou o aumento de passagem justamente no período de férias das escolas públicas, neutralizando os estudantes secundaristas que são os principais sujeitos das lutas contra o aumento de passagem.

A Manifestação do dia 24 de fevereiro teve um número expressivo de estudantes, entre 150 e 200, mas obviamente todo as diferentes matizes de divisionismo e boicote, anunciados acima, influênciou quantitativamente na manifestação. Como já foi dito, mesmo os setores hegemônicos do DCE-UFC (Toda Voz-PSOL) tendo aparecido de última hora para participar do ato contra o aumento da passagem, conseguiram expressar nitidamente as as suas táticas recuadas para os movimentos de massa. Tendo como principal propósito a aparição de figuras públicas, como o vereador pelego-mor João Alfredo/PSOL, que enquanto PT não se opôs a Reforma da Previdência, o parlamentarismo estudantil tem como estratégia o apoio ao parlamentarismo burguês e rejeita vilmente as táticas da ação direta estudantil, a única que nos poderá levar a vitória.

E a tendência é que isso se aprofunde, pois está marcada para a Câmara Municipal uma audiência pública, sobre "mobilidade urbana", aproveitando também o principal mote da campanha de João Alfredo, que é a bandeira pequena-burguesa do uso de bicicletas, bandeira essa que o DCE-UFC também se utiliza.

Veremos então, possivelmente, a tentativa de que o Fórum de Luta Pelo Passe-Livre venha a ter mais orgânicamente uma postura parlamentarista, no qual nossa principal atuação será a partipação em audiências públicas e demais táticas legalistas que retiram como central o protagonismo estudantil e a ação direta das massas.

Por isso convocamos todos os estudantes sinceros do povo a construirem pela base, comitês de luta pelo passe-livre nas escolas universidades e locais de trabalho. Convocamos estes estudantes que se opõem ao parlamentarismo estudantil a construirem conosco a REDE ESTUDANTIL CLASSISTA E COMBATIVA.

Venha construir a RECC

A Rede Estudantil Classista e Combativa (RECC) nasceu em 2009 durante o Congresso Nacional de Estudantes numa plenária que reuniu militantes do movimento estudantil de vários lugares do Brasil (RJ, DF, CE, SP, RS, GO). Atualmente possui uma atuação organizada nos movimentos de curso (Ciências Sociais, Geografia, Serviço Social, Pedagogia), universidades e escolas secundaristas. Durante esse pouco tempo de existência, a RECC construiu uma rede de oposições estudantis para combater o governismo, representado pelas entidades pelegas UNE e UBES. Acreditamos que é fundamental reorganizar o movimento estudanil sob um programa anti-governista (contra as políticas neo-liberais do Governo Lula-Dilma), classista (a luta dos estudantes deve estar relacionada as demais lutas da classe trabalhadora) e combativo (somente a ação direta poderá conquistar nossas reivindicações).


2,00 reais é roubo!

Passe livre ou rebelião!

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Comunicado da RECC-DF nº03 - A Luta contra o aumento salarial dos parlamentares


OCUPAÇÃO DO MINISTÉRIO DO TRABALHO (01/02): AVALIAÇÕES PARA PROSSEGUIR A LUTA!

No último dia primeiro de fevereiro, ocorreu uma manifestação, organizada e composta por estudantes e trabalhadores, contra o aumento dos salários dos parlamentares e de demais cargos do executivo aprovado a toque de caixa no final do ano passado com apoio massivo dos parlamentares. Nos preparativos do ato do dia primeiro, foi decidido pelo fórum de estudantes e trabalhadores que compõe o movimento, entre eles membros da própria RECC, que o objetivo da manifestação não se resumiria a ser mais uma ocupação de vias, partindo da rodoviária do plano piloto, como foram os demais atos, mas sim incluiria uma ação direta mais combativa. Desse modo, a comissão de organização do ato, eleita na assembléia do movimento, decidiu por ocupar o Ministério do Trabalho e lá permanecer até que duas pautas do movimento fossem atendidas: 1) entrega e leitura da carta de reivindicação para o ministro/burocrata de plantão Carlos Lupi, e 2) leitura da mesma carta na Voz do Brasil, conclamando a classe trabalhadora brasileira para aderir aos protestos e barrar o absurdo aumento salarial dos parlamentares assim como lutar por melhores salários e condições vida.


Ainda que com um desvio de percurso devido à presença inesperada da polícia na frente do ministério, o ato do dia primeiro conseguiu parcialmente concluir seus objetivos, ocupando o hall de entrada do ministério e fazendo o ministro receber e escutar a leitura da carta de reivindicações. No entanto, ao longo do ato, o movimento e a ocupação incorreram em diversos erros que, na nossa concepção de luta classista, minaram a força do ato e acabaram por levá-lo ao espontaneísmo e à perda de foco. É importante salientar que em manifesto da RECC distribuído no próprio ato já alertávamos quanto ao problema do espontaneísmo pequeno-burguês defendido por indivíduos e grupos, principalmente o MPL. [1]


A MÍDIA BURGUESA E OS PARTIDOS REFORMISTAS


Durante a ocupação ocorreu um debate sobre a mídia que é importante que seja aprofundado pelas organizações classistas. Primeiramente, a mídia corporativa e burguesa é um instrumento dentro da sociedade capitalista para a manutenção da exploração que sofre as massas proletárias, e isso ocorre pelo fato dela ter o monopólio das informações transmitidas em tempo integral a todos os lares, locais de trabalho e de lazer e ser financiada e sustentada por grandes capitalistas (banqueiros, latifundiários, políticos, industriais etc), fazendo com que o seu conteúdo criminalize as lutas populares, distorça e/ou omita informações destas.

Alguns manifestantes entendem a luta a partir de uma perspectiva “midiática” semelhante ao dos partidos reformistas (PT, PCdoB, PSTU, PSOL). No primeiro caso, a confiança na mídia muitas vezes é advinda da possibilidade de que a mídia possa “trabalhar conjuntamente ao movimento”, dando uma publicidade nacional a ele, e servindo inclusive como instrumento de pressão sobre a burguesia e sobre o governo. No segundo caso, dos partidos reformistas propriamente ditos, tal apego pela mídia é advindo de uma prática oportunista que objetiva capitalizar eleitoralmente as lutas populares para sua legenda eleitoral. No entanto, ambas as perspectivas deixam as lutas submetidas aos desmandos da mídia burguesa, pois, para fazer a mídia “ficar do nosso lado” (sic) vale tudo: não pode utilizar máscaras, não pode fazer ação direta, não pode transigir os limites dessa legalidade burguesa.

Não estamos querendo dizer com isso que nunca se possa utilizar da mídia burguesa para publicizar determinada causa, o que estamos querendo dizer é: esta não deve ser a base de sustentação da luta, a base de sustentação deve ser as massas estudantis organizadas, e estas organizações devem criar seus próprios veículos de propaganda: jornais, cartazes, panfletos, pintura em muros, páginas na internet etc.


A OCUPAÇÃO DO MINISTÉRIO


Em primeiro lugar, houve uma imensa confusão no modo como foram conduzidas as assembléias dentro do ministério, em especial a que determinou a permanência da ocupação após a entrega da carta ao ministro. Nós da RECC entendemos que foi um modo errado de se fazer a votação entre permanecer ou não sem que houvesse uma reivindicação condicionante de nossa saída. Desse modo, votamos em favor de se manter a ocupação, mas reconhecemos que lá permanecer sem termos bem definido a pauta de luta foi um erro responsável pela relativa desmobilização do movimento. Acreditamos, portanto, que a ocupação deveria ter mantido sua pauta original e ter exigido do ministro a leitura da carta na Voz do Brasil. Em face da confusão das assembléias, muitos estudantes (alguns manifestantes sinceros, outros notórios oportunistas) acusaram a RECC de aparelhamento do ato. Nós da RECC respondemos: lutamos para que todas as decisões do movimento sejam tomadas em assembléias democráticas e abertas para todos os participantes, sejam elas as que precedem o ato ou aquelas que ocorrem durante ele. Todos os posicionamentos de membros da RECC foram submetidos às assembléias, ora sendo acolhidos, ora não. É esse o método de democracia de base que acreditamos e defendemos como parte da luta classista e combativa. Em nenhum momento a RECC assumiu a liderança do ato em detrimento da vontade da massa de estudantes.

Em segundo lugar, houve um mal-estar, expresso em falas durante a ocupação, com uso de máscaras por alguns manifestantes. Nesse caso, é preciso justificar o uso de máscaras como medida de segurança. Ao fazer uma ação direta, como uma ocupação, é necessário que nós nos protejamos contra as possíveis retaliações das forças policiais e da justiça burguesa. A experiência nos ensinou de qual modo os fiéis cães da burguesia defendem seus patrões. A utilização de máscaras não deve ser entendida como um mero fetiche, ou um adereço estético. Precisamos encarar a dura realidade da luta de classes e nos precaver contra nossos inimigos. A identidade que devemos preservar não é a dos indivíduos em si, mas a da justa luta das massa.

Por fim, é preciso reconhecer que o movimento perdeu-se em discussões subjetivas e pouco práticas, querendo justificar posições com base na história individual de alguns manifestantes e não na realidade objetiva do ato e na sua correlação de forças. Isso se deu em alguns momentos através do discurso do "apartidarismo", segundo o qual correntes organizadas não poderiam intervir na condução do ato com o objetivo de disputá-lo politicamente. Nesse caso, precisamos responder: o "apartidarismo" é um engodo pequeno-burguês sustentado por pseudo-anarquistas que buscam despolitizar o movimento e basear suas decisões não mais nas deliberações coletiva dos estudantes e trabalhadores, mas sim nas relações de amizade e/ou na busca de "consensos" inexistentes. Defendemos, isso sim, a organização (sindical, popular e estudantil) e a democracia de base, a ação direta como método privilegiado de luta e o classismo como elemento unificador das nossas pautas. Por isso, acreditamos que a RECC seja o instrumento adequado para a reorganização do movimento estudantil anti-governista que combata os putefrados fóruns de UNE e UBES e o eleitoralismo reinante; que permita a autonomia do movimento estudantil em relação aos patrões e governos e que seja capaz de conduzir a luta para obtenção de reais vitórias. Fazemos, assim, um chamados aos estudantes que percebem que a luta contra o aumento dos parlamentares é apenas um evento numa longa cadeia de lutas e que, para fazer face às exigências históricas de nossa classe, é necessário construir organizações capazes de conduzir nosssas lutas.


POR ISSO FAZEMOS O CHAMADO: VENHA CONSTRUIR A RECC!
FORA TODOS: SALÁRIO PARA O POVO, NÃO PARA OS PARLAMENTARES!
FORA UNE E UBES PELEGAS!




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Notas:

[1] Ler o Comunicado nº2 da RECC-DF, A Luta contra o aumento dos parlamentares: entre o reformismo parlamentar e a luta classista e combativa

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Fotos da ocupação contra o aumento do salário dos parlamentares! (01/02/2011)

No dia 1º de fevereiro de 2011, cerca de 200 estudantes e trabalhadores, ocuparam o Ministério do Trabalho reivindicando 62% de aumento para o salário mínimo, 10% do PIB para a educação e revogação imediata do aumento dos parlamentares. A ocupação se iniciou as 13h e terminou as 18h, no qual foi entregue a carta de reivindicações ao Ministro do Trabalho Carlos Lupi. A RECC esteve presente no ato disputando uma linha classista e combativa para a luta dos estudantes e trabalhadores brasileiros.

AVANTE A REDE ESTUDANTIL CLASSISTA E COMBATIVA!

CONSTRUIR E FORTALECER AS OPOSIÇÕES ESTUDANTIS ANTI-GOVERNISTAS PELO BRASIL INTEIRO!

"Fora Todos! Fora Já! Salário para o Povo, e Nao para os Parlamentares!"


[manifestantes ocupando as quatro faixas do eixo monumental]


[manifestantes garantem as faixas ocupadas a revelia da polícia/repressão]


[Manifestantes com bandeira da Oposição CCI ao DCE-UnB e segurando faixa da RECC: "Salário para o Povo e não para Parlamentar!"]


[Bandeiras da RECC e Oposições filiadas levantadas na linha de frente]


[manifestantes com máscaras e bandeiras fechando as ruas do eixo monumental]

[Estudantes e Trabalhadores ocupam o Ministério do Trabalho!]




[Assembléia na ocupação do Ministério do Trabalho]

[Ministro/burocrata Carlos Lupi recebe e ouve a leitura da carta de reivindicações por parte dos estudantes]



[Manifestantes após a tomada do hall de entrada do prédio controlam a porta de entrada]


- FOTOS DE OUTROS ATOS CONTRA O AUMENTO SARIAL DOS PARLAMENTARES ANTERIORES A OCUPAÇÃO DO DIA 01/02:

[TODO PODER AO POVO!]

[Bandeira da RECC tremula junto a luta dos estudantes]


Ousar Lutar, Ousar Vencer!

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Manifesto do Coletivo Território Livre (CTL) ao XIX ENEG


19º Encontro Nacional dos Estudantes de Geografia – Brasil

Aos camaradas reunidos em Vitória/ES;
A todos/as estudantes de geografia do Brasil.


UFES, 6 a 12 de fevereiro de 2011.



Duas causas, um efeito: o esvaziamento político e a esterilidade prática.

Há algum tempo o movimento estudantil de geografia nacional sofre de um duplo mal. Por um lado uma grande parte dos nossos colegas sequer reconhece os fundamentos básicos dos espaços estudantis, como os CA’s e encontros nacionais e regionais. Sua função mínima e imediata é de organizarmo-nos para intervir na realidade de nosso curso assim como intervir no papel que exerce a educação como um todo na sociedade. Esta incompreensão, que deve ter suas causas apuradas, reproduz uma prática nestes espaços que troca, em geral, o dever coletivo pelo coleguismo festivo, cujo resultado é o notável esvaziamento político. Nossos ENEG’s se tornam, para muitos, mero pretexto para mais uma viagem turística de curtição.

Por outro lado, vemos a tentativa frustrada de organização destes espaços, levada a cabo principalmente pelo setor autodenominado “apartidário”. Não seria exagero dizermos, primeiro, que o direcionamento que este setor dá aos ENEG’s e à CONEEG (Confederação Nacional de Entidades de Estudantes de Geografia) os faz correr em círculo, “atrás do próprio rabo”. Quer dizer, tais espaços existem quase que em função de si mesmos, sem nunca avançar para as tarefas exteriores aos de sua própria “organização” e aos temas que se discute de forma vazia, sem nunca sair deste plano discursivo, diga-se de passagem. Segundo, sua própria “organização” possui debilidades graves. Fantasiados atrás dos discursos de “gestão participativa”, “espaço autônomo”, “autogestão” e etc, realizam na essência uma prática da tirania pela falta de estrutura democrática. Em diversos momentos buscam contrapor aos modelos burocratizados dos partidos eleitoreiros o seu também nefasto individualismo e o espontaneísmo. Esta é uma falsa oposição: o burocratismo dos partidos reformistas só poderá ser vencido por um programa muito bem definido e uma estrutura organizativa que coloque definitivamente o poder nas bases estudantis.

Acreditamos que um problema está intimamente ligado ao outro. O esvaziamento dos debates pode ser gerado pela falta de capacidade que um Encontro Nacional, um CA ou a CONEEG possuem para atrair e agregar as demandas mais sentidas pelos estudantes em uma organização democrática que lute para resolvê-los, assim como o esvaziamento político destes espaços faz reproduzir tal desorganização. Uma solução, no entanto, não virá da noite para o dia, baixando uma série de decretos e resoluções, muito menos por um tipo de organização caricatamente presidencialista, antes que o sugiram.


Movimento Estudantil de Geografia: romper com os apartidários, romper com os governistas e reformistas: uma só tarefa para a reorganização pela base.

Apontados os males acima, não devemos fechar os olhos para outros cânceres no movimento estudantil. O pior e mais corrosivo se chama UNE – União Nacional dos Estudantes. Tal entidade, que em sua história respirou pouco tempo de combatividade durante a ditadura civil-militar, encontra-se hoje completamente burocratizada e atolada na dependência política e econômica dos Governos do PT (Lula-Dilma) e com grandes capitalistas (Petrobras, Fundação Roberto Marinho, Banco do Brasil etc). A UNE não passa de uma tropa de choque submissa ao governo em meio aos estudantes, uma mera correia de transmissão dos programas de seus chefes de Estado e por isso deve ser prontamente rechaçada.¹

Em suposta alternativa, vemos por aí uma outra entidade, a ANEL – Assembléia Nacional dos Estudantes Livres. A ANEL, entretanto, é apenas o resultado de uma política frustrada do PSTU para aliar-se ao PSOL no plano eleitoral burguês via “frente de esquerda”. Esta eterna paquera trouxe como conseqüência o desligamento orgânico do movimento estudantil com o movimento dos trabalhadores na então CONLUTAS, sendo necessário a criação da ANEL como um refúgio consolativo. Para piorar, esta entidade não rompe definitivamente com o governismo, estando ligada a setores que inclusive possuem cargos de direção na UNE, e nem rompe com métodos burocráticos e legalistas de luta, se ridicularizando nas “lutas” via twiter, projetos de lei, plebiscitos etc.²


Construir um Movimento Nacional de Oposição: pela aliança dos estudantes antigovernistas e combativos

Compreendemos que a tarefa de recolocar o Movimento Estudantil de Geografia no caminho das lutas passará necessariamente pela atuação coordenada de estudantes e coletivos em nível inter-escolar. Chamaremos isso de reorganização pela base. Não estamos nos referindo a uma coordenação qualquer, nem a mais um GT que se perde em terapia coletiva ou divagações idealistas. Estamos propondo aqui um espaço nacional que sirva para debater e articular a atuação daqueles estudantes e coletivos sinceros que se oponham a atual direção que vem tomando nosso movimento. Para tanto, propomos aos camaradas comprometidos com a tarefa da reorganização uma unidade mínima em torno da seguinte linha:

  • a) antigovernista: romper com a UNE e lutar contra as políticas neoliberais do Governo Lula-Dilma/PT para a educação (Corte Orçamentário, REUNI, ProUNI, Lei de Inovação Tecnológica, Fundações Privadas, Cursos Pagos etc);
  • b) classista: que estabeleça um programa claro aos estudantes proletários e se organize ao lado da classe trabalhadora, seja dentro da universidade, com professores, servidores e terceirizados, ou fora dela, com desempregados, camponeses, secundaristas etc;
  • c) combativa: que eleja a ação direta como a forma central de luta para conquistar nossas reivindicações, rechaçando a via estéril das eleições burguesas e os meios legalistas e burocráticos tais como petições e audiências públicas, projetos de lei e abaixo-assinados, participação em conselhos universitários e etc;
  • d) democracia de base: que reconheça a necessidade da base estudantil ser o agente protagonista das decisões e lutas, rejeitando os velhos acordos entre cúpulas, a nova tendência desorganizadora “autonomista/apartidária” que dá a direção pelo coleguismo e as disputas oportunistas e aparatistas para se tornar uma “direção sem base”.

O Coletivo Território Livre acredita que tal Oposição Nacional deve canalizar os esforços por enquanto dispersos dos estudantes e demais coletivos a fim de (1) impulsionarmos em todos os níveis (local, regional e nacional – em especial o local) discussões que superem a apatia desorganizadora que nos encontramos, (2) que façamos ser cumpridas as deliberações acertadas tomadas neste espaços e que, (3) mantendo uma independência necessária,btoquemos atividades de agitação, propaganda e organização pela própria Oposição.


Construir um Congresso Nacional de Base

A participação nos espaços do ENEG atualmente não esta pautada por nenhum critério e orientação política que venha das bases. Esta lógica da participação individual e sem compromisso deve ser alterada. Um encontro deve servir para ter representado todas as posições políticas dos estudantes de cada escola deste país e o direcionamento eleito democraticamente pela vontade da maioria. Tal espaço não cabe neste atual modelo de ENEG. Por isso devemos construir um Congresso Nacional de Base dos Estudantes de Geografia, que sirva como órgão regular máximo de deliberação, colocando o poder nas bases organizadas, que elegem delegados ao Congresso de acordo com programas e teses defendidas e aprovadas em cada escola.


Participe da Plenária Pró-Encontro Regional dos Estudantes de Geografia do Centro Oeste

Convocamos todos os estudantes das escolas do Centro Oeste para participarem no dia 7 de fevereiro às 20h (local a definir!) da Plenária Pró-EREGEO/CO. O Centro Oeste não possui um espaço próprio. Aderimos ao chamado desta Plenária por entendermos que nossa proximidade física deve favorecer as lutas e a solidariedade com as demandas comuns que temos em defesa da educação. Compareça!


Nem um passo atrás!

Já é hora de superar o discurso da neutralidade: tomemos nossos postos diante da luta de classes. Querer ser neutro é um posicionamento reacionário que só serve para manter as coisas tal como estão. Não permaneceremos parados diante do nosso povo que morre todos os anos nos deslizamentos de encosta, soterramentos, enchentes e nas chacinas policiais. Utilizemos a ciência geográfica como arma dos trabalhadores na luta contra o capitalismo.


CONSTRUIR UMA OPOSIÇÃO NACIONAL NO MOVIMENTO ESTUDANTIL DE GEOGRAFIA!
POR UMA CIÊNCIA GEOGRÁFICA CRÍTICA E A SERVIÇO DA CAUSA DO POVO!
VIVA A AÇÃO DIRETA DOS ESTUDANTES E TRABALHADORES!



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¹ - Ver Comunicado da RECC-Brasil Nº 03, janeiro de 2011: UNE recebe presente de natal milionário do Papai
² - Ver Boletim AVANTE! Nº01, setembro de 2009: Análise do Congresso Nacional dos Estudantes: Um congresso a serviço de uma nova entidade. Uma nova entidade a serviço do oportunismo.