segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Saudação da Oposição CCA ao I ENOPES


Nos dias 15, 16 e 17 de novembro, ocorreu no Rio de Janeiro, na UFRRJ, o I ENOPES – Encontro Nacional de Oposições Populares, Estudantis e Sindicais. O encontro teve como objetivos, 1) iniciar o debate sobre a conjuntura mundial junto com as principais contradições da sociedade brasileira, e 2) traçar estratégias e formas de organização para a luta. A Oposição Classista, Combativa e Autônoma ao DCE da UFG participou da construção do encontro, realizando discussões prévias, proporcionando maior acúmulo para as discussões nacionais.

A Oposição CCA vem saudar todos os coletivos e oposições que ajudaram na construção e também ao encontro, que foi bastante positivo, com debate político aprofundado, sendo um espaço coletivo democrático e de afirmação do classismo e combatividade. O encontro, pautou-se na construção de um plano de lutas anti-governista e anti-reformista, pela reconstrução de uma tendência do sindicalismo revolucionário, a qual entendemos ser o caminho correto de luta para a classe trabalhadora, contra as desigualdades da sociedade capitalista.

Os acontecimentos a partir de junho trouxeram novo fôlego para a luta de classes, e o ENOPES foi o espaço fundamental de reflexão, trocas de experiência e elaboração de um plano de lutas, essencial para o avanço. Nossa principal tarefa neste momento, é trazer para nossas bases os acúmulos adquiridos no encontro, pensando, de maneira coletiva, a melhor maneira de aplicar as resoluções em nossa localidade.

Ir ao combate sem temer! Ousar lutar, ousar vencer!
Avante juventude! A luta é que muda, o resto só ilude!
É barricada, greve geral, ação direta que derruba o capital!

Saudação da Oposição CCI/RJ ao 1º ENOPES


A Oposição Classista, Combativa e Independente ao DCE-UFRRJ(OCCI) vêm saudar e parabenizar todos os coletivos presentes ao Encontro Nacional de Oposições Populares, Estudantis e Sindicais[ENOPES] pela construção de um amplo espaço de debate e de uma linha de atuação que saia dos parâmetros de luta instituídos pelo governismo e pelo oportunismo eleitoral.
A conjuntura de Lutas que eclodiu em junho de 2013 mostrou que só a organização e mobilização pela base, rompendo com a burocracia sindical e estudantil, e tendo como perspectiva a ação direta das massas é capaz de modificar a realidade da classe trabalhadora e resistir aos ataques dos setores governistas e para governistas que durante o ano se mostraram verdadeiros inimigos do povo.

A OCCI com apenas dois meses e construída no calor das lutas de junho enxergou o ENOPES como um excelente espaço de debate e troca de experiência com militantes colegas de toda a parte do Brasil e faz a defesa da construção de uma Tendência Classista e Internacionalista se comprometendo a construir localmente a política deliberada no encontro. Também defendemos que a RECC é a alternativa classista na qual visualizamos a possibilidade de construção de um movimento estudantil através da base, rompendo com o imobilismo e com o oportunismo por parte de coletivos pelegos, que só visam aparelhar o movimento.

Que em 2014 a luta se intensifique e que todos os setores da classe trabalhadora se levantem organizados contra os ataques do Governo e do Capital!


É BARRICADA, GREVE GERAL, AÇÃO DIRETA QUE DERRUBA O CAPITAL!
NÃO VAI TER COPA!
ROMPER OS MUROS DA UNIVERSIDADE! SERVIR AO POVO DO CAMPO E DA CIDADE!


AVANTE REDE ESTUDANTIL CLASSISTA E COMBATIVA!

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

SAUDAÇÃO DO COLETIVO LUTASOCIAIS AO I ENOPES


SAUDAÇÃO DO COLETIVO LUTASOCIAIS AO I ENOPES

O I Encontro Nacional de Oposições Populares, Estudantis e Sindicais – ENOPES, que aconteceu entre os dias 15 e 17 de Novembro em Seropédica/RJ, foi em sua totalidade positivo para os setores classistas, antigovernistas e independentes como o Coletivo LutaSociais.

O Coletivo reúne estudantes na UFC e UnB que tiveram momentos de socialização das lutas durante o Encontro, entendendo que esse processo de trocas é de fundamental importância para fortalecer o movimento estudantil de Ciências Sociais que está aprofundado nos modos governistas e paragovernistas de fazer movimento. Exemplo desse modo foi o último ENECS que aconteceu em Julho de 2013 em Fortaleza, onde esses setores de atuação nacional no curso deslegitimaram a Coordenação Regional de Estudantes de Ciências Sociais – CRECS Centro Oeste, que foi impulsionada de modo a fortalecer a democracia de base e blindar o oportunismo dos que vão a esses encontros sem comprometimento nenhum com a base.

O ENOPES, muito diferentemente, “recarregou as baterias” das organizações e militantes que fazem um ferrenho trabalho de base em seus locais de trabalho, estudo e moradia. Mostrou ser um espaço auto-organizado e fundamental para o aprofundamento do classismo e da ação direta proletária. Agora o ENOPES continua, não nos deixaremos cair nas práticas que tanto rechaçamos daqueles setores reformistas e pelegos! O I ENOPES continua nos nossos locais de atuação, vamos implementar o plano de lutas tirado nesse encontro, fortalecendo a democracia de base, o classismo e tendo a ação direta como principal método na luta contra o Estado, o capital e todos os reformistas conciliadores de classes!

O POVO UNIDO É UM POVO FORTE, NÃO TEME A LUTA, NÃO TEME A MORTE. O POVO UNIDO É UM POVO FORTE, NÃO TEME A LUTA, NÃO TEME A MORTE. AVANTE COMPANHEIROS ESSA LUTA É MINHA E SUA, UNIDOS VENCEREMOS E O ENOPES CONTINUA!

AVANTE COLETIVO LUTASOCIAIS! AVANTE RECC!

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Relato de Invasão de Fazendeiros na FUNAI (Campo Grande - MS) em 19/11/13



Em 19 de novembro deste ano, véspera do dia da Consciência Negra, o agronegócio  confirma sua ferocidade antiindígena durante invasão da Funai em Campo Grande/MS.

Enquanto setores paragovernistas acusam o governo federal de omissão no que tange a demarcação das terras indígenas, nós afirmamos: tal morosidade é deliberada, intencional e coerente com a política neo-desenvolvimentista imposta em favor da velha oligarquia rural consorciada com multinacionais da agroindústria.

Solidarizamo-nos com os povos indígenas na luta pela terra e exigimos imediata devolução de seus territórios! Viva a retomada!!!

Solidarizamo-nos, também, com os funcionários da Funai – concursados ou não - que, distintamente da alta burocracia do Estado, enfrentam no cotidiano de trabalho intenso assédio moral e ameaças por parte do latifúndio/agronegócio e seus burocratas, sob condições precárias de trabalho (dado o proposital sucateamento daquela autarquia) e perda progressiva de direitos trabalhistas.

Urge que este setor supere o sindicalismo de Estado e rompa com o governismo, a fim de construir formas eficazes de luta e autodefesa, necessariamente orientados em favor da luta pela terra. Obviamente, reconhece-se que tal condição não se compara ao sofrimento dos povos indígenas, mas a luta de uma fração da classe trabalhadora não pode se alhear da luta pela terra, pois o inimigo é um só e a guerra é a mesma.

PELA AUTODETERMINAÇÃO DO POVOS INDÍGENAS!
PELO AUTOGOVERNO DA CLASSE TRABALHADORA!
VIVA A ALIANCA CAMPO E CIDADE, POR TERRA E LIBERDADE!

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Assista ao vídeo, a frase que o marca é "O dia 30 está chegando e eu rogo uma praga para que vocês morram" -  Protesto de Fazendeiros na Funai de Campo Grande - Preconceito e ódio


 * * *

Segue relato* sobre a invasão dos fazendeiros à Coordenação Regional da FUNAI em Campo Grande-MS:


Um dia após o anúncio do início das doações de cabeças de gado para a realização do leilão que pretende arrecadar fundos para a contratação de milícias para promover o genocídio indígena no MS (como se a contratação de empresas de capangas já não fosse uma prática arraigada entre os autoproclamados produtores deste Estado), os latifundiários decidiram começar a dar provas de seu poder de fogo e de sua certeza de impunidade. Enquanto alguns deles se reuniam com o Governador André Puccinelli e demais representantes políticos do agronegócio, para acordar os detalhes da viagem que farão a Brasília, no próximo dia 21, com o objetivo de pressionar o Governo Federal em relação à questão fundiária, outros, acompanhados por centenas de pequenos produtores, oriundos em sua maioria do sul do Estado – cooptados por alienação ou por interesses escusos - ocuparam o prédio da Coordenação Regional da FUNAI na capital e fecharam a Rua Maracaju, onde se localiza a Fundação, por aproximadamente quatro horas.

Os servidores trabalhavam, por volta das 08:30, quando visualizaram o início da aglomeração em frente ao prédio. Antes que tivessem tempo de ao menos entender o que se passava, um grupo de dezenas de fazendeiros tomou a recepção, na tentativa de forçar a entrada. Os funcionários passaram, então, a ouvir constantes ataques verbais e provocações que se dirigiam tanto ao Órgão, quanto insultos pessoais e de baixo calão. A situação se agravou no momento em que se propôs ao grupo que dessem prosseguimento à manifestação na rua, mas desocupassem a portaria. Os ânimos se exaltaram e, com gritos de “vamos invadir igual os índios fazem nas nossas terras”, empurrando quem estivesse no caminho, ocuparam todo o corredor de entrada do térreo.

Sobretudo a partir desse momento, ficou evidente que os pequenos produtores estavam sendo utilizados como mera massa de manobra pelos latifundiários. O discurso previamente combinado se pautava pela suposta defesa dos direitos daqueles frente aos “abusos cometidos pela FUNAI e pelas ONGs”, que, conforme os proprietários do Estado seriam as responsáveis pelas retomadas promovidas legítima e autonomamente pelos povos indígenas. O fato que esses pequenos produtores, chacareiros e sitiantes parecem ignorar é que o agronegócio monocultor, exportador, concentrador de terras e renda, financiado pelas transnacionais fabricantes de agrotóxicos, que vem há décadas promovendo o sistemático assassinato de lideranças indígenas e de qualquer um que se oponha aos seus interesses, em sua infinita necessidade de acumulação de capitais, é também inimigo da pequena propriedade rural. Estes homens e mulheres, verdadeiros trabalhadores do campo - assim como assentados, indígenas, quilombolas e ribeirinhos - que hoje se posicionaram ao lado dos latifundiários, correm o grande risco de se verem igualmente engolidos pelo latifúndio, restando-lhes apenas a alternativa de migrarem para as periferias das cidades ou se transformarem em sem-terras. Daí, sim, o Brasil verá a sua classe produtora arruinada, pois não é à base dos grãos e das comoditties exportadas pelo agronegócio que a nação se alimenta, mas com os produtos semeados nas pequenas e médias propriedades.

As agressões não pararam: servidores, indígenas e não indígenas, indignados com as falas falaciosas e ofensivas contra os povos originários, tentaram em vão argumentar razoavelmente, sendo quase agredidos fisicamente; um indígena Terena que prestava declarações a uma equipe de televisão por pouco não foi atingido por uma garrafa térmica manejada por um fazendeiro de Laguna Caarapã, na intenção de impedir que a entrevista ocorresse; o mesmo fazendeiro, ao ser interpelado verbalmente por um servidor por conta de sua atitude violenta, tentou quebrar o equipamento de vídeo que este portava. Sucederam-se ainda diversos discursos de incitação a ações de retaliação aos indígenas e aos defensores de seus direitos, sempre ao som do Hino Nacional, repetido à exaustão, como manda a etiqueta de qualquer manifestação fascista que se preze.

Merece destaque também o comportamento das forças policiais durante o ocorrido. Menos de dez agentes da Polícia Militar foram deslocados para garantir a integridade dos servidores e se portaram de maneira bem distinta daquela a que a sociedade está acostumada quando o assunto é coibir manifestações populares: nada de Tropa de Choque, nada da truculência, balas de borracha ou spray de pimenta. O que se viu foi uma atitude de quase camaradagem com os invasores (permito-me aqui lançar mão do jargão dos donos do poder) ou até mesmo um certo tom de respeito silencioso aos nobres donos do Estado.

Resta questionar qual teria sido a atitude dos mantenedores da Lei e da Ordem se, no lugar de um protesto organizado por milionários, tivéssemos uma manifestação de indígenas, sem-terras, ou quaisquer outros grupos que não detenham o poder econômico. Os Amarildos e Oziéis, que insistem em cometer o hediondo crime de nascerem pretos, pobres e índios nesta democracia de gangsters, poderiam dar resposta a essa indagação, caso já não estivessem eternamente silenciados.

A “manifestação pacífica”, conforme a qualificou a mesma imprensa que costuma chamar de vândalos e baderneiros os trabalhadores e estudantes que saem às ruas em oposição às verdadeiras injustiças sociais, teve fim por volta das 13:00h, com a desocupação do prédio e o final antecipado do expediente para os servidores.

O recado dado nessa manhã de ignorância, bestialidade e covardia foi bastante claro: eles sabem muito bem que são os donos das terras, do dinheiro, da mídia e de boa parte do Governo – que, só neste ano, destinou cento e trinta e seis bilhões de Reais para engordar os bolsos do latifúndio, via Plano Safra, enquanto deixa a FUNAI à míngua com orçamentos cada vez mais diminutos - e sua capenga Justiça, e não descansarão até que todo o país se transforme em terra arrasada por sua monocultura devastadora.

Aos que se opõem a tal plano, restam duas opções: continuar com seus discursos de panos-quentes, concordando com a estúpida política de conciliação de classes adotada pelo Governo burguês, ou assumir a tarefa da resistência e da luta frente às violações praticadas em nome do desenvolvimentismo capitalista.

Campo Grande-MS, 19 de novembro de 2013



*O relato acima foi redigido por pessoa que estava presente no local durante os acontecidos, mas prefere não se identificar por questões de segurança.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Moção de solidariedade em apoio a estudante Maria de Lurdes

Companheira Lurdinha,
 
A Rede Estudantil Classista e Combativa vem aqui reforçar nossos votos de solidariedade. A ação de humilhação pela qual o prof. Jonas (nada) Modesto de Abreu tentou lhe submeter deve, ao contrário de lhe subestimar, certificar a relevância de seu papel nas ciências sociais. A relevância pode ser constatada pelo profundo incômodo que causou no prof. Modesto ao mexer e questionar as ideologias que mantém as opressões na sociedade e consequentemente ainda na universidade - infelizmente. Ainda que não tenha a ele se referido nominalmente, a reação que causou nele a crítica - corretíssima! - que você ousou realizar em sala de aula mostra sua grandeza de coragem e espírito de justiça social em contraste com a pequenez moral que tem um prof. que se deixa levar por "leva e trás", fofocas de corredores, e em cima disso ofende e agride verbal e psicologicamente seus alunos. Diante dos fatos, o prof. "Modesto" mostra-se não somente como um péssimo ser humano, dito genericamente, mas evidencia sua grande deficiência enquanto cientista social, pois sequer fatos do cotidiano sabe investigar antes de qualquer conclusão; e ainda que soubesse concluir, não sabe se portar diante da crítica sobre a reprodução das opressões no curso de ciências sociais da UFG-Catalão. São estudantes como você, companheira Lurdinha, guerreiras, trabalhadoras e usadas para combater as injustiças e opressões que as universidades deveriam se encher; e se esvaziar cada dia mais destes senhores "modestos" intocáveis.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

GREVE GERAL na UECE! É estudantes, servidores e professores na luta!!!




Mesmo o Ceará sendo um dos estados sede da Copa do Mundo de 2014, tendo a frente Cid Gomes/PROS, investindo milhões em obras faraónicas para gringo ver, as universidades estaduais estão superprecarizadas.

A situação calamitosa chegou a tal ponto que a Universidade Estadual do Ceará - UECE se encontra hoje com um defict de mais de 300 professores, bibliotecas defasadas, assistência estudantil inexistente, infra estrutura precária... enfim todos os problemas da educação com um governo que investe em mega-obras deixando a educação às baratas, numa universidade hegemonicamente proletária.

As pautas centrais da greve são: Creche, residência universitária, ônibus intercampi, aumento do valor das bolsas, R.U. no CH e nos Campi do interior do estado, concurso para professores e servidores, aumento de verba e infra estrutura.

Por essas pautas e outras, os estudantes da UECE, reunidos em assembléia no dia 20/10 definiram greve estudantil que foi acompanhada no dia 29/10 pelos professores e servidores da universidade. A greve já tem ampla adesão e tem um importante calendário de lutas.

Assembleia Geral Estudantil que deliberou a Greve - 29/10/13

NÃO TEM DINHEIRO PRA EDUCAÇÃO, MAS TEM DINHEIRO PRA AQUÁRIO E CASTELÃO!
A NOSSA GREVE UNIFICOU, O ESTUDANTE, O SERVIDOR E O PROFESSOR!
PARA BARRAR A PRECARIZAÇÃO, GREVE GERAL, GREVE GERAL NA EDUCAÇÃO!
GREVE GERAL INTERIOR E CAPITAL!
AVANTE A UNIDADE PROLETÁRIA ESTUDANTIL!

Comitê de Propaganda da RECC em Três Lagoas/MS organiza Cine-Debate


quinta-feira, 24 de outubro de 2013

(CE) SEMANA DE LUTA! É PASSE LIVRE OU REBELIÃO!

A seção da RECC-CE vem há quase um ano impulsionando a luta pelo Passe Livre em Fortaleza através do Fórum pelo Passe Livre. Desde sua fundação, o Fórum aderiu a Semana Nacional de Luta do Passe Livre. O modelo de mobilização, defendido por nós, fortalece as atuações na base através dos Comitês por urso, escola, bairro ou local de trabalho.

PASSE LIVRE OU REBELIÃO! 

Avante!

 



segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Comunicado 16: Um novo ciclo da luta de classes no Brasil




REDE ESTUDANTIL CLASSISTA E COMBATIVA

Brasil, outubro de 2013
Comunicado Nacional da RECC nº 16
www.redeclassista.blogspot.com | rede.mecc@gmail.com

 
Um novo ciclo da luta de classes no Brasil:
as Jornadas de Junho como explosão da contenção social e as tarefas da auto-organização popular

 



"Organizar a esperança,
conduzir a tempestade,
romper os muros da noite.
Criar sem pedir licença,
um mundo de liberdade."
Pedro Tierra

I.




O
s últimos meses alteraram permanentemente o quadro político nacional. Vimos em um período de tempo inacreditavelmente curto todas as “grandes verdades”, aceitas pela direita tradicional à esquerda institucional, desmoronarem como um castelo de cartas. Um levante popular em poucas semanas se alastrou pelo país. Nas grandes mídias, nos partidos políticos e entre grande parte de nossos intelectuais, dizia-se em uníssono que o Brasil havia entrado num ciclo sustentável de desenvolvimento, com diminuição das desigualdades sociais, aumento do emprego formal e crescimento econômico. Esse suposto consenso, que buscou legitimar a existência de uma “democracia em consolidação” no Brasil, não passava ao escrutínio de um olhar mais rigoroso sobre o que de fato ocorria no subterrâneo de nossas grandes cidades.
Expansão sem precedentes de uma educação de baixa qualidade e privatista em conluio com grandes grupos empresariais, voltada quase que exclusivamente para uma massa de trabalhadores precarizados e terceirizados (alheios a qualquer rede estatal de proteção); a violência sistemática e genocida contra a população pobre das periferias dos grandes centros urbanos, perpetrada por uma polícia militar completamente inescrupulosa e sem qualquer freio à sua sanha insaciável por sangue da nossa juventude negra; a manutenção do odioso sistema de transporte urbano que, a custo do sacrifício cotidiano da população, sustenta ínfimas famílias de empresários mafiosos. Hoje, contudo, todas aquelas verdades de estabilidade social se esfumaçaram no ar e ninguém que se queira dar ao respeito irá repeti-las com a mesma soberba de antes – o Rei está nu, ainda que os ideólogos de antes busquem lhe proteger com uma pequena tanguinha.



II.



É preciso o esforço para captar os acontecimentos em sua qualidade dinâmica, e não estática, necessariamente contraditória, e não absoluta. Entender o que vem levando, de junho a hoje, milhares às ruas como parte de um processo histórico não concluído e como fenômeno relativamente novo. Novo, pois em parte indica uma ruptura com o modelo reformista, legalista e pacifista de luta experimentado majoritariamente nas últimas três décadas no Brasil.
Não se trata de uma ruptura total, trata-se de um fenômeno até então paralelo, pois o velho peleguismo das centrais, sindicatos, entidades estudantis e partidos reformistas não foi alterado. Mas também, paralelo a tais organizações tradicionais – apesar de convergirem nas manifestações cívicas, ordeiras e pacíficas –, surgiram e rapidamente desapareceram setores que reivindicavam em vão o “sem vandalismo”. O diferencial é que sua aparição se deu num contexto de tomada coletiva das ruas, embora hoje não mais resistam nesta tomada. Seriam estes a direita? Seriam a classe média?
O apego ao símbolo nacional difundiu-se desgraçadamente, mas onde estiveram as bandeiras vermelhas nos últimos trinta anos?  Com raras exceções, se institucionalizaram no mesmo Estado Nacional e nas burocracias estudantis e sindicais, distantes do povo. E se a falta de um programa pôde ser oportunamente questionada pelas emissoras de televisão – é óbvio que o fariam! – com qual direito poderiam fazê-lo os sindicatos e partidos oficiais quando seus programas de ação não passam das farsantes vias eleitorais e democráticas? Como atua o dito Partido dos Trabalhadores há dez anos no governo, se não acomodando as tensões sociais e maquiando os conflitos de classe, mantendo inalterada a estrutura social do país? Não é preciso trágicas repetições do ciclo petista em nossa história. Seus programas, aceitos pelas burocracias estudantis e sindicais, não teriam vazão nas massas que tomaram as ruas sem tutelas e sem unificação organizativa. Uma definição programática destas lutas ainda está por se consolidar.
Depois de três décadas, depois de tanta contenção popular diante das restritivas estruturas políticas, econômicas e sociais típicas da reestruturação produtiva e da ilusória "redemocratização" no Brasil, aliadas ao trabalho cupulista e conciliador dos “representantes” estudantis e sindicais, depois de tudo isso, não é de se estranhar a falta de uma clara organização e um programa aos sujeitos que tomam as ruas. A explosão e a espontaneidade foram o contrapeso da contenção popular. Hoje, entretanto, os protestos estão mais refinados politicamente, encontramos nas ruas uma verdadeira vanguarda cuja palavra de ordem que a anima é certamente a revolução. Esta vanguarda deve aprimorar suas ações e focar para constituir a retaguarda ativa da luta popular através dos trabalhos de base, sem a qual a luta não oxigenará e a repressão mais facilmente nos abaterá.
Mas se antes para alguns não estava na ordem do dia o socialismo, noutros isto aparece em germe, na reivindicação dos serviços púbicos essenciais, contra a carestia de vida, na luta direta para resistir à violência do Estado policial, para combatê-lo. As próprias ações destrutivas surgem como reflexo da violência cotidiana sofrida pelas parcelas pauperizadas, exploradas e oprimidas no trabalho, no transporte público, nos hospitais, estádios de futebol, escolas e abordagens policiais. A explosão foi a expressão política de um povo que esteve contido e violentado. Seus alvos foram bancos, multinacionais, órgãos públicos, representantes do Estado e do Capital e não violências a esmo como pratica a polícia. Não pode haver nada mais didático para o aperfeiçoamento desta expressão política do que a dinâmica dos próprios acontecimentos auxiliada pelas organizações amigas do povo e das experiências históricas e contemporâneas noutros países. O povo nada perde por não escutar a arrogância das emissoras de televisão e partidos eleitorais nos taxando por suposta falta de propósitos, táticas ou formas organizativas.
Quais foram os propósitos, táticas e formas organizativas da maioria das entidades estudantis, sindicais e partidárias oficiais? Inexistentes ou burocráticas assembleias de base, voltas olímpicas nas avenidas, migalhas negociadas nos gabinetes com as autoridades e, por fim, campanha eleitoral do partido para melhor nos representar no parlamento. A duras penas, é compreensível a preferência de que o aprendizado venha da auto-organização. As estruturas oficiais perderam a credibilidade.
O período político também traz novos sujeitos. Ainda que seja questionável a absoluta presença de uma classe média nas ruas, o governismo, assim enquadrando as manifestações, tratou ou de ostentá-los pitorescamente como “o povo que obteve instrução e elevação de renda nos últimos dez anos e agora “quer mais direitos” (sic) ou simplesmente quis invalidar qualquer que fosse sua expressão por ser de “classe média”. Porém nada condenam a mesma “classe média” que, por ventura, seja a base dos seus sindicatos no serviço público, na aristocracia operária ou nas eleições estatais.
Em primeiro lugar, o conceito de classe média é totalmente questionável. O governo federal adotou uma formulação deste e hoje o utiliza como instrumento de propaganda política. Classe média é um conceito de classes de renda (classes A, B, C, D etc.) e não de classes sociais (burguesia e proletariado). Ele não explica o funcionamento estrutural da sociedade capitalista e o esconde propositadamente para se reportar aos estratos de remuneração média da sociedade. Assim, ignora se são pertencentes a frações do proletariado de renda mais elevada advinda do trabalho ou da pequena burguesia que obtém renda do capital.
Que hajam indivíduos advindos da burguesia (pequena, média ou grande) que se queiram mostrar solidários às reivindicações dos trabalhadores, não temos nenhuma dúvida. Mas a exceção confirma a regra. Qualquer que seja a devoção destes sujeitos, esta será posta em prova, sendo aceitos se estes estiverem prontos para abdicar de seus poderes e privilégios de classe. Não verbalmente, mas de fato. Pois os mesmo poderes e privilégios são sustentados por nossa exploração e são antagônicos ao bem-estar e a liberdade dos trabalhadores. Não há conciliação harmônica entre condições antagônicas de classes sociais.
Mas certamente não foram estes setores que estiveram majoritariamente nas ruas. Constatamos, sim, a presença de frações dos trabalhadores de renda mais elevada ou padrão de consumo sustentado pelo endividamento. Porém apenas quem esteve nas linhas de frente contra a polícia fascista nos grandes centros urbanos, nos subúrbios e periferias, pôde ver o que a rede globo não mostrou: a notória presença de trabalhadores superexplorados, desempregados, estudantes precários, enfim, a juventude marginalizada. Esta presença ocorreu de forma massificada em diversos protestos e sua expressão política classista não pode ser questionada.
Portanto, mentem os meios de comunicação ao dizerem que não houve presença da classe trabalhadora. Mentem de maneira descarada as centrais sindicais e partidos ao afirmarem que os trabalhadores entraram em cena nas ruas no dia 11/07, coincidentemente quando as centrais legalizadas pelo Estado convocaram uma pretensa paralisação nacional! Como se antes não fossem trabalhadores. Com se os jovens combatentes fossem egressos de outra classe social! Como se os trabalhadores pudessem expressar sua luta apenas através dos sindicatos oficiais. Nesta caracterização reside a maior arrogância típica da prática de tutela e cupulismo das centrais, sindicatos e partidos.
Hoje temos uma geração que se forma na base de outros acontecimentos, ações e debates coletivos, conflitos de rua, luta de classes aberta: são outras experiências forjando outra tradição de luta. Hoje discute-se política de uma forma mais aberta no seio do povo, temas que outrora seriam “tabus”. Então, vendo os fatos como dinâmicos, não nos cabe a ansiedade e arrogância para qualifica-los como desejaríamos que fossem, mas sim como de fato são. Há múltiplos elementos objetivos e subjetivos em jogo. Todos eles podem ser transformados: pode-se esfriar ou acirrar ânimos, politizar ou despolitizar as revoltas, pode-se aprimorar ou podar as iniciativas difusas de organização, pode-se jogar a contestação social para dentro ou para fora do Estado e assim por diante.



III.



Desde Junho, a cada curto intervalo de tempo vemos um elemento novo ou mais expressivo entrando em cena e caracterizando o atual levante popular no Brasil. Nas primeiras semanas havia a quase exclusiva condenação pela mídia como se fossem criminosas as ações dos movimentos pela revogação da tarifa nos transportes em São Paulo, Porto Alegre e Goiânia. Na semana seguinte, inspirados pelas manifestações de rua e solidários às vítimas da repressão jurídico-militar, explodiram lutas em dezenas de outras cidades brasileiras – deve-se considerar que houve aumento tarifário em no mínimo 15 capitais neste mesmo período e grande insatisfação popular com os efeitos negativos dos megaeventos (os mesmos defendidos por partidos governistas, PT e PCdoB).
Então a grande imprensa, incapaz de apenas criminalizar os movimentos e não tendo mais como contê-los, adota a estratégia de também "disputar" as bandeiras e formas de ação das manifestações, valorizando/estimulando de forma sistemática e aparentemente neutra as heterogeneidades de reivindicações e as ações ordeiras. Vemos surgir ridiculamente nas revistas e telejornais "datenas" e "bonners", agora especialistas em manifestações, nos ditando o que fazer. Grupos organizados de extrema direita também tentam "disputar" as manifestações e, sem ostentar suas bandeiras, inserem-se veladamente nos atos (tal como faz o DEM, PMDB, PSDB etc.) ou de forma explícita (sendo exemplo cabal o ataque de fascistas no dia 20/06 em São Paulo a movimentos sociais e partidos da esquerda reformista). Também policiais se infiltram nas manifestações, reuniões presenciais e redes sociais estimulando variadas fórmulas de delação. Partidos como PT e PCdoB e centrais como a CUT e a CTB praticaram delação e violência voluntária contra manifestantes combativos. Vemos, portanto, uma ação repressiva agir em larga escala de fora para dentro e de dentro para fora dos movimentos.
O fim de junho e início de julho apareceu marcado pela articulação mais nítida de movimentos sociais e partidos para entrarem em campo neste levante. Os chamados para o dia 27/06 e 11/07 evidenciam esta caracterização. Não que as forças partidárias, organizações populares e centrais sindicais estivessem totalmente ausentes desde as primeiras lutas. Mas, em primeiro lugar, não o fizeram com chamados e pautas próprias nem mesmo convocando suas bases às ruas ou às greves. Em segundo lugar, a explosão de atos ocorreu por fora das organizações de classe tradicionais (as hoje hegemônicas). Em Porto Alegre foi o Bloco de Lutas, em São Paulo o MPL e em Goiânia a Frente de Luta Contra os Aumentos os sujeitos centrais das convocações, portanto estruturas flexíveis, conjunturais e “não-tradicionais” por assim dizer.
Foi, sobretudo, a tentativa da direita de disputar o "movimento" que incitou a esquerda reformista a se colocar de forma mais contundente. Poderíamos compreender esta "letargia" inicial também devido ao caráter imprevisível e espontâneo de adesão e ações neste ascenso de mobilizações, ao menos na magnitude e no tempo em que ocorreram.
De certa fora, é esta ascensão espontânea e imprevisível que merece melhor atenção, pois revela contradições fundamentais e um cenário futuro ainda em aberto. A primeira contradição é que sua ocorrência deu-se praticamente por fora das organizações de massa oficiais e dos partidos políticos, mesmo os da esquerda reformista. Os sujeitos que tomam hoje as ruas são aqueles em grande medida não tutelados pela forma e conteúdo das representações oficiais (governista e reformista) dos estudantes e trabalhadores. E não estamos dizendo dos setores de renda média da sociedade ao qual a mídia dá enfoque. Dizemos dos levantes que tem ocorrido nas periferias e subúrbios e na aparição dos sujeitos sociais mais pauperizados nos grande atos, o que a mídia deliberadamente esconde, pois sabe que reside nesta camada da sociedade a maior capacidade de questionamento do "estado atual das coisas".
A segunda contradição é que estes mesmos setores tendem a expressar uma luta cujas metodologias visivelmente fogem daquelas permitidas e orientadas pelas vias estatistas. Burlam os atos "ordeiros e pacíficos" com rotas e negociações combinadas anteriormente com a polícia e as autoridades. Chegam ao ponto de questionar ainda intuitivamente as eleições e o parlamento e instauram as ruas como seu legítimo espaço de ação política. Obviamente não estamos dizendo da totalidade dos manifestantes, mas a crescente utilização de resistência ativa (autodefesa e contra-ataque) por um determinado setor do movimento vem expressando o limite de uma tradição cultivada nas últimas quatro décadas pelos grandes e pequenos partidos que se reconhecem como esquerda no Brasil (PCdoB, PT, PSTU, PSOL) e seus aparelhos estudantis e sindicais (CTB, CUT, UNE, ANEL) –  uma esquerda reformista e domesticada. A combatividade explosiva dos protestos definitivamente fugiu do roteiro das tradições de manifestos domesticados e isso abre o caminho da auto-organização e da ação direta em nível local e nacional.
Aqui chegamos ao "x" da questão. Estas duas contradições (levante de massas X refluxo das lutas anteriores, e métodos de resistência ativa X domesticação reformista) tem ocorrido de tal modo exatamente porque se deram por fora das tradições ordeiras e parlamentares. E, consequentemente, por fora das orientações das principais siglas dos movimentos sociais e partidários. E só ocorreram porque ocorreram por fora. De outra forma não poderia ter sido.
Mas o que leva as centrais sindicais e partidos reformistas a se inserir (ou tentarem se inserir) de forma "organizada" no movimento? Evidente que há diversos interesses no interior do reformismo para isso. Dentre eles, o dos governistas (PT, PCdoB, CUT, UNE, CTB, MST etc.) que abriga suas contradições, pois ao mesmo tempo em que não poderiam colocar suas bases nas ruas para se indispor com o governo federal e assim abrir caminho para a eleição da oposição de direita em 2014 (PSDB, DEM), muitos compreendem que deve-se reivindicar a ruptura do Governo com a burguesia para implantação de "reformas estruturais". Sua ação foi ao mesmo tempo tentar defender o governo com medo da apropriação eleitoral do movimento pela direita e exigir o que, por força material, o governo petista é incapaz de fazer sob pena de perder sua governabilidade: romper com a burguesia.
Abre-se então a possibilidade de crise na base governista ao mesmo tempo em que se reedita a tese da "disputa do governo". Ficaram dispostos assim: mais a "direita" do governo, o interesse é exclusivamente eleitoral; mais a "esquerda", é o delírio idealista que imagina ser possível o PT governar sem a burguesia ou sem seu próprio vice, Michel Temer (PMDB). Ao mesmo tempo em que se reivindicam reformas estruturais, seu aspecto genérico e pró-desenvolvimentista não visa combater a hiperacumulação de capitais em decorrência dos megaeventos, obras do PAC ou privatização da educação via PNE, por exemplo. Sem combater a hiperacumulação da burguesia é impossível reivindicar as melhorias para as condições de reprodução de vida da classe trabalhadora.
No interior da oposição reformista de esquerda ao governo petista (PSOL e PSTU, sobretudo) há uma leitura equivocada que conduz ações equivocadas. Os fatos da disputa pela direita do movimento na ocasião das bandeiras arrancadas, violência contra militantes partidários, incidência da grande imprensa etc. levou a caracterização superestimada e generalizada dos protestos como sendo uma "onda fascista" ou mesmo um "golpe de estado", propondo a construção de uma "frente antifascista". Contraditoriamente, estes mesmos setores não estão presentes nas barricadas combatendo a expressão maior do fascismo hoje: a repressão policial do Estado. Ao contrário, seus teóricos e dirigentes nacionais condenam os grupos de autodefesa, notoriamente os Black Blocs, fazendo coro com a grande imprensa ao classificar a resistência ativa como "minorias irresponsáveis".
Ora, ao dizerem que estes não são os métodos que “dialogam” com a classe, preparam seus discuros e campanhas eleitorais para 2014, exatamente no momento em que cresce a rejeição social frente às eleições estatais através das abstenções, votos brancos e nulos; ao afirmarem que a autodefesa e o contra-ataque dos manifestantes atrai a repressão policial, certamente se esqueceram que a nossa polícia atual, herdeira da ditadura, nunca precisou dos Black Blocs como pretexto de sua violência. A vida nos gabinetes e nas eleições estatais deseducou os reformistas da luta de classes aberta.
Há então um interesse comum dos partidos reformistas e seus apêndices sindicais, que é a defesa da própria ordem sindical pelega e estatal-eleitoral. Enquanto o povo avança desprendendo-se aos poucos, mas criticamente, das ilusões parlamentares (seja pelo elemento "moral" da corrupção ou abstencionista nas eleições, seja com uma prática insurrecional contra símbolos estatais), os reformistas do governo ou da "oposição" se lançarão na defesa de seus redutos eleitorais, disputando as migalhas de confiança do povo ou pretendendo retomar a confiança em parte perdida no Estado-burguês. E suas táticas eleitorais no ano que vem certificarão nossa análise. Ao invés de aumentar a cisão aberta entre a política do povo, de um lado, e a política do Estado e do Capital, de outro, buscarão sarar essa fissura. Incorrem num erro perverso e contrarrevolucionário.
As eleições e seus preparativos em 2014 será um momento imperdível em que os oportunistas eleitoreiros darão a cara à tapa, todos buscando se apropriar em alguma medida das manifestações em curso. E o povo não deve se eximir de estapeá-los, vigorosamente.  
Uma das vias será a retomada das tentativas de incidência dos partidos via sindicatos - não se trata aqui de negar a entrada dos setores organizados da classe trabalhadora, sobretudo, em suas agremiações sindicais. O elo que se pode construir, por exemplo, entre professores em greve no estado do Rio de Janeiro e as táticas dos Black Blocs apontam a necessidade de um novo marco: por um lado nas lutas sindicais, que não mais podem se aquietar frente a falta de controle da base sobre suas direções nem frente a violência policial; e, por outro lado, na própria aparição dos Black Blocs que, surgindo como expressão tática avançada da ação direta, ainda podem incorrer no erro de se desenvolver sem vínculo com as reivindicações objetivas das categorias de base dos estudantes e trabalhadores. Esta dicotomia deve ser rompida.
Trata-se, então, de questionar as velhas formas pelegas do sindicalismo incorporando os novos elementos da luta de classes no Brasil, de se permitir arejar e renovar diante do passo a frente que deu as lutas populares. Falamos aqui de unir greves e barricadas, assembleias de base e ocupações dos locais de trabalho e estudo, propaganda e ação direta.
A maior preocupação e empenho dos estudantes e trabalhadores classistas e combativos hoje deve ser, então, ao passo que desorganizamos os aparatos estudantis sindicais pelegos, organizar os setores desorganizados: os trabalhadores precarizados, terceirizados, desempregados, moradores dos subúrbios, os estudantes trabalhadores, estagiários, as bases das entidades estudantis alheias a suas diretorias, enfim, os setores que foram às ruas de forma explosiva e que as hegemônicas organizações da esquerda não os contemplam. Cientes desta falta de credibilidade, devemos acertar o ponto da critica a tais organizações sem que elas estimulem a inação, o quietismo e o pessimismo nas lutas coletivas. Este será o maior desafio: desorganizar a burocracia e auto-organizar os desorganizados. Defender modelos sindicais e estudantis em que a base tenha o poder e o exerça por completo. Caso contrário, continuaremos vendo o rechaço popular às formas de organização coletivas da classe.



IV.



Aqui reside uma grande lição das lutas de agora: é o caráter insubordinado em relação aos métodos tradicionais dos movimentos sindicais e estudantis, incluindo também de alguns movimentos sociais mais próximos do governismo, que deu a gigantesca proporção às lutas atuais. Deve-se nesse ponto abdicar de qualquer dogmatismo e moralismo acerca do que em grande medida diferencia essas jornadas das lutas populares que pipocavam no país até então – a questão da legitimidade da autodefesa popular e da ação direta. É preciso tornar claro que os destituídos, aqueles que se propuseram a pôr a própria integridade física em risco a fim de diminuir vinte centavos da tarifa de transporte, não dispõem dos meios institucionais e financeiros para terem suas demanda atendidas. Pelo contrário, é somente através de sua força coletiva, união e solidariedade, ao impor a governos e empresas suas exigências, que o povo é capaz de se transformar em agente político efetivo. Tomar prédios públicos, encerrar vias, ocupar o espaço público da cidade e defender-se da polícia quando essa ataca são os meios à disposição dos mais oprimidos para satisfazer suas demandas, o que demonstra a incapacidade das vias tradicionais de canalizarem as vozes populares.
A questão da violência deve ser encarada como o desenlace da repressão policial e da ausência de instrumentos efetivos de empoderamento dentro da institucionalidade vigente. E não poderia ser diferente: frente ao poder econômico, cuja preponderância no sistema eleitoral é brutal, e a um aparelho de Estado que, contrariamente a todas as vãs esperanças reformistas, se mostra completamente incapaz de se adequar as exigências populares – principalmente nos seus braços econômicos e repressivos – é nada mais do que natural esperar que o descontentamento popular exploda sem conseguir ser mediado por nenhuma instância tradicional, seja ela partidária, sindical ou jurídica.
Nesse ponto, é necessário que deixemos a arrogância de lado e aprendamos um pouco com as massas que estão na rua: não devemos opor os enfrentamentos nas ruas aos métodos do movimento de massa (como greves por exemplos), tal como quer fazer o PSTU, mas sim buscar os elos a serem construídos entre as táticas de manifestações de rua em curso e as formas de luta empregadas historicamente pelo movimento sindical revolucionário. Se o modelo de sindicatos que temos atualmente, com sua lógica política interna e seu modo organizacional, não é capaz de dar respostas a essas questões, provavelmente isso decorra do congelamento burocrático que suas direções submeteram suas entidades, imortalizando-se no topo de uma estrutura burocrática inerte e afastando-se suas bases. Talvez, inclusive, ao ser ventilada pelas formas espontâneas e combativas de movimentos de rua, possa ser possível romper com a inércia e a integração estatista que impera no movimento sindical. Mas esse fim só será alcançado de baixo para cima, através da construção de Oposições que atuem junto à base conscientemente com este objetivo.
Essa tarefa, portanto, ainda está a ser realizada. O potencial proletário só pode ser desenvolvido mediante sua luta, de acordo com suas condições objetivas e subjetivas, em vistas de um programa concreto a ser conseguido a partir de suas próprias forças.  No ciclo de lutas iniciado em Junho e que teve, acreditamos, um ilustre desenvolvimento na greve dos professores no Rio de Janeiro e Goiânia, tais problemas eclodiram com emergência importantíssima. Após um possível arrefecimento das manifestações de rua e dos ânimos públicos, devemos nos manter atuando em cada uma de nossas localidades buscando dar prosseguimento às manifestações de rua, tentando dar um programa classista às reivindicações genéricas exigidas por parte considerável da juventude trabalhadora do país.  Cabe agora reestabelecer a auto-organização popular em nossos espaços de sociabilidade – estudo, trabalho e moradia – dando continuidade ao sentimento de falência das vias tradicionais, partidárias e eleitorais, tão desacreditadas após o levante popular de junho.



V.



A tática e a estratégia da auto-organização, portanto, devem ser bem claras. A classe trabalhadora, através de suas organizações de base, é capaz de realizar a luta política. Por luta política não entendemos algo em dicotomia com a luta econômica. A luta política antecipa e ao mesmo tempo é um desdobramento da luta econômica –  na verdade, ambas estão a todo tempo associadas. Grosso modo, luta política é luta por poder, pela gestão dos ambientes de sociabilidade, da produção, da saúde, da educação, da distribuição dos itens necessários a vida, das relações internacionais etc.; e a luta econômica é a luta pela reprodução das condições de existência, é hoje a luta por salários, por acesso à saúde pública, previdência social, moradia, alimentação etc.
Por muito tempo, criou-se uma falsa dicotomia com a tradição de que caberia aos movimentos sociais (estudantis, sindicais e populares) fazerem a luta econômica, enquanto os partidos fazem a luta política. Trocando em miúdos: sindicatos reivindicam salários e os partidos operam no interior e junto ao Estado cuidando da macroeconomia e dos planejamentos estratégicos da sociedade. A luta isolada dos movimentos, segundo os ideólogos desta tradição, resultaria em economicismo – reivindicações por melhorias das condições de vida que não rompem com o capitalismo. Logo, os movimentos dependem dos partidos, pois a relação salarial depende da macroeconomia (empresários sanguessugas sempre recorrem aos fundos públicos e ao Estado exigindo isenções fiscais, desregulação das leis trabalhistas etc., e lá estariam os "partidos dos trabalhadores" para mediar tais lutas).
Sabemos que há outras concepções da relação partido-classe, porém esta descrita acima é a mais difundida. Seu exemplo máximo é o PT, há uma década no governo federal, e em menor proporção reproduzida por partidos como PSTU e PSOL. Mas qual o resultado desta concepção? Ela se desenvolve em reformismo, e tão logo em colaboracionismo de classes. Quer dizer, o PT não somente não foi capaz de assegurar direitos e reduzir a desigualdade entre os mais ricos e os mais pobres – quando muito desenvolveu políticas de assistência, elevação de renda e empregos formais, porém superexplorados – mas em dez anos de governo garantiu recordes históricos de lucro aos bancos, ao agronegócio, às empreiteiras, manteve todas as privatizações do governo FHC e iniciou novas privatizações na previdência social, nas rodovias, portos, aeroportos e ao leilão do petróleo à burguesia internacional.
Ou seja, não se sustenta a crítica de que fatalmente as lutas dos movimentos sociais por si só resultaria em economicismo. Pois o suposto contrabalanço para que estas lutas econômicas se desenvolvam em luta política por poder, via partidos eleitorais, se resume à gestão do Estado capitalista, que produz e reproduz a exploração econômica dos trabalhadores e a exclusão política da sociedade.
Qual seria, então, nossa compreensão da luta a longo prazo? De que é necessário que o conjunto dos movimentos sociais se desenvolvam com o objetivo de reorganizar a propriedade, baseando-se na direção coletiva dos processos produtivos e econômicos e na política de mutualidade-redistribuição com o propósito de que a renda nacional e mundial sejam repartidas de forma a eliminar as desigualdades e hierarquias sociais. Isto implica a própria reorganização do sistema educacional, de modo a atender universalmente e capacitar manual e intelectualmente os trabalhadores, mas eliminando a dicotomia trabalho intelectual/trabalho manual. Mas como devem ser garantidos tais objetivos? Através da autodeterminação dos povos, ou naquilo que chamamos de autogoverno dos trabalhadores. Quer dizer, o controle da produção e dos processos decisórios na esfera da formação de mão-de-obra, produção e circulação feito diretamente pelos produtores e consumidores.
Então, porque a luta política "precede" e se "desdobra" da luta econômica? Pois ela inicia no interior da organização dos estudantes e trabalhadores para que estes tenham o poder coletivo da direção de suas próprias entidades. Estas lutas, entretanto, não se prendendo as dinâmicas de apoios parlamentares e nem reivindicando o Estado como juiz da luta de classes, devem necessariamente se desenvolver pela ação direta. E ação direta significa enfrentar patrões, governos, mídias, polícias e a justiça burguesa, pois ao fim elas visam o autocontrole de todos os espaços de sociabilidade. É por isso que se faz necessário unificar as táticas dos Black Blocs com as ações das entidades de classe, pois a ação direta deve ser executada como ação de massas.
Iniciar o controle das entidades é a condição para garantir as melhorias econômicas de hoje (salários, saúde pública, previdência social, moradia, alimentação etc.), através dos enfrentamentos com a ordem estabelecida, visando o autogoverno generalizado da sociedade (pela gestão dos trabalhadores sobre os ambientes de sociabilidade, da produção, da saúde, da educação, da distribuição dos itens necessários a vida, das relações internacionais etc.).
Mas se estas entidades (sindicatos, grêmios, associações, DCE, CAs etc.) não são democráticas nem cumprem sua função de mobilizar sua base coletiva para lutar, elas devem necessariamente ser destruídas ou transformadas. A tática organizativa da transformação destas entidades, em nossa concepção, é a consolidação de Oposições. Não se trata de chapas de oposição para eventualmente disputar as gestões. As Oposições de Base são agrupamentos que paulatinamente disputam os rumos do movimento, sobretudo militando para fazer agitação, propaganda e organização da base e criando experiências de luta coletiva. Defendem as práticas coerentes com o autogoverno dos trabalhadores, como as greves e ocupações, por exemplo, como uma ginástica revolucionária.
Lutamos no cotidiano para que não sejam os partidos eleitorais os veículos pelos quais os movimentos sociais busquem representantes de nossas reivindicações. Afirmamos que somente tem legitimidade para representar às reivindicações dos movimentos aqueles sujeitos de sua própria base, eleitos democraticamente entre seus pares nas devidas instâncias, cuja função será imperativa e os cargos revogáveis. Mas a atuação dos movimentos não se exerce tão somente como forma representativa. Mas principalmente com poder de pressão, e este nível é exatamente as manifestações de rua, as tomadas de prédios públicos, de reitorias e escolas, de terras, a paralisação da produção e do trabalho. Enfim é a não substituição dos trabalhadores e estudantes em sua luta, é a ação direta.
É por este motivo que estamos construindo um Encontro Nacional de Oposições Populares, Estudantis e Sindicais (ENOPES) em novembro de 2013, no Rio de Janeiro (www.enopes2013.wordpress.com). Ele visa dar substância e articulação entre oposições que atuam nas mais diferentes frações dos trabalhadores. Pois o autogoverno da sociedade pressupõe a pluralidade e a democracia, ou seja, dele devem participar todas as frações do proletariado. Esta articulação do futuro começa agora: desde a criação das oposições por local de trabalho, estudo e moradia; por sua coordenação nacional; e pela sua evolução futura para uma Central de Classe que, enfrentando o Estado e o Capital, obtenha o poder político e econômico sobre a sociedade, eliminando a exclusão e a exploração.
Por fim, não devemos ter dúvidas: devemos defender o amplo e democrático método do diálogo no interior dos movimentos para formação política de nossas reivindicações e a defesa até as últimas consequências destas reivindicações pelas manifestações de rua; sem receios, usemos e aprimoremos os métodos combativos que nossos inimigos estão condenando, pois são estes métodos a mais alta expressão do antagonismo de classes e da não conciliação entre explorados e exploradores!




É barricada!!! Greve Geral!!! Ação Direta que derrota o Capital!!!
Liberdade ou morte: Venceremos!!!