segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Manifesto do Coletivo Território Livre (CTL) ao XIX ENEG


19º Encontro Nacional dos Estudantes de Geografia – Brasil

Aos camaradas reunidos em Vitória/ES;
A todos/as estudantes de geografia do Brasil.


UFES, 6 a 12 de fevereiro de 2011.



Duas causas, um efeito: o esvaziamento político e a esterilidade prática.

Há algum tempo o movimento estudantil de geografia nacional sofre de um duplo mal. Por um lado uma grande parte dos nossos colegas sequer reconhece os fundamentos básicos dos espaços estudantis, como os CA’s e encontros nacionais e regionais. Sua função mínima e imediata é de organizarmo-nos para intervir na realidade de nosso curso assim como intervir no papel que exerce a educação como um todo na sociedade. Esta incompreensão, que deve ter suas causas apuradas, reproduz uma prática nestes espaços que troca, em geral, o dever coletivo pelo coleguismo festivo, cujo resultado é o notável esvaziamento político. Nossos ENEG’s se tornam, para muitos, mero pretexto para mais uma viagem turística de curtição.

Por outro lado, vemos a tentativa frustrada de organização destes espaços, levada a cabo principalmente pelo setor autodenominado “apartidário”. Não seria exagero dizermos, primeiro, que o direcionamento que este setor dá aos ENEG’s e à CONEEG (Confederação Nacional de Entidades de Estudantes de Geografia) os faz correr em círculo, “atrás do próprio rabo”. Quer dizer, tais espaços existem quase que em função de si mesmos, sem nunca avançar para as tarefas exteriores aos de sua própria “organização” e aos temas que se discute de forma vazia, sem nunca sair deste plano discursivo, diga-se de passagem. Segundo, sua própria “organização” possui debilidades graves. Fantasiados atrás dos discursos de “gestão participativa”, “espaço autônomo”, “autogestão” e etc, realizam na essência uma prática da tirania pela falta de estrutura democrática. Em diversos momentos buscam contrapor aos modelos burocratizados dos partidos eleitoreiros o seu também nefasto individualismo e o espontaneísmo. Esta é uma falsa oposição: o burocratismo dos partidos reformistas só poderá ser vencido por um programa muito bem definido e uma estrutura organizativa que coloque definitivamente o poder nas bases estudantis.

Acreditamos que um problema está intimamente ligado ao outro. O esvaziamento dos debates pode ser gerado pela falta de capacidade que um Encontro Nacional, um CA ou a CONEEG possuem para atrair e agregar as demandas mais sentidas pelos estudantes em uma organização democrática que lute para resolvê-los, assim como o esvaziamento político destes espaços faz reproduzir tal desorganização. Uma solução, no entanto, não virá da noite para o dia, baixando uma série de decretos e resoluções, muito menos por um tipo de organização caricatamente presidencialista, antes que o sugiram.


Movimento Estudantil de Geografia: romper com os apartidários, romper com os governistas e reformistas: uma só tarefa para a reorganização pela base.

Apontados os males acima, não devemos fechar os olhos para outros cânceres no movimento estudantil. O pior e mais corrosivo se chama UNE – União Nacional dos Estudantes. Tal entidade, que em sua história respirou pouco tempo de combatividade durante a ditadura civil-militar, encontra-se hoje completamente burocratizada e atolada na dependência política e econômica dos Governos do PT (Lula-Dilma) e com grandes capitalistas (Petrobras, Fundação Roberto Marinho, Banco do Brasil etc). A UNE não passa de uma tropa de choque submissa ao governo em meio aos estudantes, uma mera correia de transmissão dos programas de seus chefes de Estado e por isso deve ser prontamente rechaçada.¹

Em suposta alternativa, vemos por aí uma outra entidade, a ANEL – Assembléia Nacional dos Estudantes Livres. A ANEL, entretanto, é apenas o resultado de uma política frustrada do PSTU para aliar-se ao PSOL no plano eleitoral burguês via “frente de esquerda”. Esta eterna paquera trouxe como conseqüência o desligamento orgânico do movimento estudantil com o movimento dos trabalhadores na então CONLUTAS, sendo necessário a criação da ANEL como um refúgio consolativo. Para piorar, esta entidade não rompe definitivamente com o governismo, estando ligada a setores que inclusive possuem cargos de direção na UNE, e nem rompe com métodos burocráticos e legalistas de luta, se ridicularizando nas “lutas” via twiter, projetos de lei, plebiscitos etc.²


Construir um Movimento Nacional de Oposição: pela aliança dos estudantes antigovernistas e combativos

Compreendemos que a tarefa de recolocar o Movimento Estudantil de Geografia no caminho das lutas passará necessariamente pela atuação coordenada de estudantes e coletivos em nível inter-escolar. Chamaremos isso de reorganização pela base. Não estamos nos referindo a uma coordenação qualquer, nem a mais um GT que se perde em terapia coletiva ou divagações idealistas. Estamos propondo aqui um espaço nacional que sirva para debater e articular a atuação daqueles estudantes e coletivos sinceros que se oponham a atual direção que vem tomando nosso movimento. Para tanto, propomos aos camaradas comprometidos com a tarefa da reorganização uma unidade mínima em torno da seguinte linha:

  • a) antigovernista: romper com a UNE e lutar contra as políticas neoliberais do Governo Lula-Dilma/PT para a educação (Corte Orçamentário, REUNI, ProUNI, Lei de Inovação Tecnológica, Fundações Privadas, Cursos Pagos etc);
  • b) classista: que estabeleça um programa claro aos estudantes proletários e se organize ao lado da classe trabalhadora, seja dentro da universidade, com professores, servidores e terceirizados, ou fora dela, com desempregados, camponeses, secundaristas etc;
  • c) combativa: que eleja a ação direta como a forma central de luta para conquistar nossas reivindicações, rechaçando a via estéril das eleições burguesas e os meios legalistas e burocráticos tais como petições e audiências públicas, projetos de lei e abaixo-assinados, participação em conselhos universitários e etc;
  • d) democracia de base: que reconheça a necessidade da base estudantil ser o agente protagonista das decisões e lutas, rejeitando os velhos acordos entre cúpulas, a nova tendência desorganizadora “autonomista/apartidária” que dá a direção pelo coleguismo e as disputas oportunistas e aparatistas para se tornar uma “direção sem base”.

O Coletivo Território Livre acredita que tal Oposição Nacional deve canalizar os esforços por enquanto dispersos dos estudantes e demais coletivos a fim de (1) impulsionarmos em todos os níveis (local, regional e nacional – em especial o local) discussões que superem a apatia desorganizadora que nos encontramos, (2) que façamos ser cumpridas as deliberações acertadas tomadas neste espaços e que, (3) mantendo uma independência necessária,btoquemos atividades de agitação, propaganda e organização pela própria Oposição.


Construir um Congresso Nacional de Base

A participação nos espaços do ENEG atualmente não esta pautada por nenhum critério e orientação política que venha das bases. Esta lógica da participação individual e sem compromisso deve ser alterada. Um encontro deve servir para ter representado todas as posições políticas dos estudantes de cada escola deste país e o direcionamento eleito democraticamente pela vontade da maioria. Tal espaço não cabe neste atual modelo de ENEG. Por isso devemos construir um Congresso Nacional de Base dos Estudantes de Geografia, que sirva como órgão regular máximo de deliberação, colocando o poder nas bases organizadas, que elegem delegados ao Congresso de acordo com programas e teses defendidas e aprovadas em cada escola.


Participe da Plenária Pró-Encontro Regional dos Estudantes de Geografia do Centro Oeste

Convocamos todos os estudantes das escolas do Centro Oeste para participarem no dia 7 de fevereiro às 20h (local a definir!) da Plenária Pró-EREGEO/CO. O Centro Oeste não possui um espaço próprio. Aderimos ao chamado desta Plenária por entendermos que nossa proximidade física deve favorecer as lutas e a solidariedade com as demandas comuns que temos em defesa da educação. Compareça!


Nem um passo atrás!

Já é hora de superar o discurso da neutralidade: tomemos nossos postos diante da luta de classes. Querer ser neutro é um posicionamento reacionário que só serve para manter as coisas tal como estão. Não permaneceremos parados diante do nosso povo que morre todos os anos nos deslizamentos de encosta, soterramentos, enchentes e nas chacinas policiais. Utilizemos a ciência geográfica como arma dos trabalhadores na luta contra o capitalismo.


CONSTRUIR UMA OPOSIÇÃO NACIONAL NO MOVIMENTO ESTUDANTIL DE GEOGRAFIA!
POR UMA CIÊNCIA GEOGRÁFICA CRÍTICA E A SERVIÇO DA CAUSA DO POVO!
VIVA A AÇÃO DIRETA DOS ESTUDANTES E TRABALHADORES!



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¹ - Ver Comunicado da RECC-Brasil Nº 03, janeiro de 2011: UNE recebe presente de natal milionário do Papai
² - Ver Boletim AVANTE! Nº01, setembro de 2009: Análise do Congresso Nacional dos Estudantes: Um congresso a serviço de uma nova entidade. Uma nova entidade a serviço do oportunismo.

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