quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

UNE recebe presente de natal milionário do Papai

UNE recebe presente de natal milionário do Papai

Independência financeira: condição e resultado da independência política


Que há tempos a União Nacional dos Estudantes
(UNE) já perdeu sua independência econômica, isso não é nenhuma novidade. Mas o último repasse do governo Lula à instituição, agora em um único cheque multi-milionário, atesta, mais uma vez, que definitivamente a UNE foi vendida ao governo e que não mais serve aos estudantes.

De acordo com o site Contas Abertas - fato incontestado, admitido e praticado sem nenhuma vergonha pela própria UNE - de 2003 até abril de 2010 a entidade já recebeu mais de 12 milhões de reais de órgãos do governo federal, fora as cifras que empresas estatais haviam repassado, como Petrobrás e Banco do Brasil (
link 1), e sua receita no lucrativo ramo das carteirinhas na ordem de 3 milhões anuais (link 2). Não por acaso, é este o período em que o governo federal esteve sob os cuidados de Lula (do PT). Mas desta vez, numa única e grande jogada política, esta mesada mais do que triplicará. Serão exatamente 44.600.000,00R$ que a UNE colocará no cofrinho! Para aqueles que, como nós, nunca viram tantos zeros juntos, aí vai novamente: 44 milhões e 600 mil reais!


É motivo para sorrisos que não acaba mais.

Esta verdadeira fortuna retirada dos cofres públicos será destinada para a reconstrução do prédio sede da UNE no Rio de Janeiro, que foi metralhada e incendiada no estouro da ditadura civil-militar (1964) e demolida em 1980. Para o presidente da UBES, Yann Evanovick (da UJS/ PCdoB), tal repasse multi-milionário "nada mais é do que uma reparação histórica, pelo Estado brasileiro, do que foi feito com as entidades estudantis nos tempos da ditadura" (link 3). O novo prédio, projetado por Niemeyer, terá não mais que 13 andares para UNE e UBES melhor desenvolverem suas atividades como verdadeira Subsecretaria de Juventude do Governo Federal que são. Nas palavras do Lula aos seus servidores da UNE: “Nenhuma decisão do nosso governo foi tomada sem consultar vocês” (link 4). Elas foram pronunciadas no ato-lançamento da pedra fundamental da construção do prédio, nesta segunda feira, 20 de dezembro de 2010, que além da participação do Papai, contou também com a presença de sete ministros, como Fernando Hadad da educação, e dos assassinos responsáveis pela militarização das favelas cariocas e criminalização da pobreza no Rio de Janeiro, governador do estado Sérgio Cabral (do PMDB), e prefeito da capital, Eduardo Paes (também do PMDB).


UNE de luta à UNE de Lula



Vale lembrar que no mesmo ano do incêncio de sua sede, a UNE era colocada na ilegalidade e durante o período de 64 a 68 atuou na clandestinidade. Este foi um período destoante em sua história pela heróica e combativa miliância da UNE como co-irmãos dos trabalhadores da cidade e do campo que bravamente lutaram contra o regime ditatorial, principalmente sob a influência das organizações revolucionárias VAR-Palmares e ALN. Muitos militantes estudantis que não se renderam ao Estado assassino e ao capital morreram em combates, aos quais a RECC busca velar por sua memória e honrar sua atuação. Após 68 a UNE sofre uma grande desestruturação e praticamente inexiste, foi quando o DOPS se infiltrou e prendeu cerca de 1000 estudantes que participavam do seu XXX Congresso em Ibiúna. A UNE resurgiria apenas em 1979, a partir daí já sob a direção maior do PT e PCdoB - este, diga-se de passagem, não larga o osso da direção da UNE há mais de qunize anos.

Apesar de já carregar o germe do reformismo desde 79, o desenvolvimento final desta política se daria apenas em 2002 quando de fato os anseios de PT e PCdoB, partidos hegemônicos na UNE, se concretizam com o objetivo estratégico de um dos seus ter conquistado o Governo Federal. Desde então, fica explicito a falência total da UNE. A via eleitoral foi a forma que os partidos reformistas e as burocracias da UNE utilizaram para ascender ao poder do Estado-burguês, ao qual naturalmente permanecem submissos até hoje.


A dependência política da UNE é resultado e condição de sua dependência econômica ao Governo Lula

Dia 20 de abril, dois dias antes de iniciar o 58º Conselho Nacional de Entidades Gerais da UNE (Coneg), que se realizou até o dia 25 na UFRJ (Rio), a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado aprovou o projeto (PLS 19/10) enviado ao Congresso pelo presidente que liberaria até 30 milhões de verba federal destinados à reconstrução da sede da UNE. O Coneg discutiria justamente se apoiaria ou não formalmente a candidata de sucessão do Governo Federal, Dilma Rousseff. Apesar do agrado, a tentação de prestar o apoio nominal à Dilma só foi contida no primeiro turno. A ânsia mais sincera da UNE, tanto quanto oportunista, só precisou ser revelada mesmo na hora deciciva do desempate. Nas palavras do presidente da UNE, também pecedobista, Augusto Chagas: "Vamos ao segundo turno, vamos eleger Dilma Rousseff!"

Mas não é só por votos que se vende a UNE. Sua relação de total "independência" frente aos repasses milionários do Governo também se refletem nas defesas mais descaradas dos programas neoliberais deste, como o ProUNI, o REUNI, a MP das Fundações Privadas e etecéteras - fato este que Lula reconhece. A relação promíscua que a UNE mantém com o Governo Lula, escondida sobre o eufemismo da expressão "abertura para o diálogo", não somente a paralisa mas principalmente tenta frear a luta daqueles estudantes sinceros e independentes na prática que se posicionam contrários às medidas do seu Patrão. Exemplo disso foi o boicote que a UNE fez à maioria das ocupações de reitoriais nos anos de 2007 e 2008 pelo país, quando estas acertadamente apontavam suas críticas contra o REUNI, por exemplo. Nem mesmo na USP, onde a UNE era direção do DCE durante a ocupação, ela esteve presente, chegando a ser ridicularizada ou mesmo expulsa de algumas universidades como a UFSC e a UNIR. Quando estourou o caso mensalão, enquanto milhões de ativistas brasileiros entoavam a palavra de ordem "Fora Todos!", a UNE realizava passeatas pelo "Fica Lula".

Da UNE que lutou contra a ditadura nada restou. Hoje seus burocratas ganham milhões para ficar de bico calado e desonram aquela história de sua entidade. É evidente que quem sustenta a UNE não são os estudantes, mas sim as gordas gorjetas do Governo. Para a UNE, no entanto, ronda o senso comum de que esta prática é completamente normal e aceitável. Mas retire sua fonte financeira e vejamos o que sobra. O Governo e as empresas estatais não bancam a UNE por caridade. A bancam para que ela defenda seus interesses entre nós: UNE e UBES são uma vergonha e prestam um deserviço aos estudantes brasileiros. Romper com a UNE é o primeiro passo para reorganizarmos no Brasil a luta massiva e independente dos estudantes. Manter-se na UNE é manter-se complacente com esta colaboração de classes. A UNE hoje é exemplo para trilharmos o caminho contrário: manter a independência financeira e política frente ao Governo e à burguesia, rejeitar os oportunistas que utilizam as entidades estudantis como trampolins políticos para se elegerem nas próximas eleições, construir a consciência e a luta pela base e não por congressos viciados e despolitizados. Se hoje a UNE "não precisa tomar cacetada, ser presa, apanhar ou ser perseguida" (link 6), isso é justamente porque ela já se integrou sistematicamente na lógica do Estado burocrático e repressor e da burguesia das universidades privadas. A luta de classes não é a conciliação; é o confronto até suas últimas consequências: até a vitória, companheiros!


Romper com a UNE para seguir lutando!
Fora governistas do Movimento Estudantil!
Massificar as batalhas dos estudantes independentes!



5 comentários:

Almanakut Brasil disse...

Enquanto isso, muitos estudantes que foram aprovados no ProUni, tão divulgado na campanha eleitoral , ficaram sem vagas nas universidades ou foram redirecionados para as entidades meia-boca, para conquistarem um diploma de qualquer coisa!

Renato disse...

é engraçado ouvir falar hoje q aquela UNE q lutou contra a ditadura q era de luta, não sei se quem escreve este artigo raivoso sabe, mas, mesmo na luta contra a ditadura q a UNE e diversas outras entidades enccabeçaram tbm tinha uns trosco, sempre tem uns trosco, pra meter o pau nas entidades q fazem a luta, pra tentar raxar o movimento, afinal, estes pequenos burgueses não tem compromisso algum com nada, o compromisso da une neste fato da indenização é histórico, para reconstrução de uma sede q foi tirada e ateada fogo pela ditadura militar, q perseguia quem se contrapunha, q não era o caso dos trosco, que ao invés de lutar ficavam igual hoje, tirando moção, escrevendo textos idiotas pra bater nas entidades ao inves do sistema. A UNE faz luta e conquista avanço pra Juventude, ela é a entidade dos estudantes e não está a serviço de partidos igual é o sonho de vcs!

Anônimo disse...

a UNE de 64/68 é totalmente diferente da UNE atual, não apenas por conta de a época ser diferente, mas pelo fato de que a própria UNE não representa mais a luta dos estudantes. As maiores lutas que ocorreram nos últimos anos no Movimento Estudantil Brasileiro (vide ocupações de reitorias, lutas pelo passe-livre, etc) foram por fora e/ou abertamente contrários a UNE.

Pelo que dizem andares da nova sedeserão utilizados por décadas pela petrobras para funcionamento administrativo, ou seja: A UNE é capacho do governo e os empresários!

Abaixo UNE pelega!
AVANTE RECC!

Rosa Maria disse...

Eu fui universitária, da USP, nos anos de 67-70, bem como lá eu fiz também pós-graduação, stricto sensu, até 1974. E devo dizer que a UNE de hoje em nada lembra a UNE daqueles tempos. E não vejo sentido em a UNE receber uma indenização tão milionária, pois esta chega a ser escandalosa quando a gente tem consciência que esse dinheiro é pago pelos trabalhadores que continuam sendo explorados vergonhosamente. Quero dizer também que no site "Petição Pública" há um abaixo-assinado, criado por mim, contra o novo valor do salário mínimo fixado pelo governo; nele eu comparo não só os aumentos fixados para os parlamentares, etc, mas também faço referência ao valor da "bolsa-reclusão", de cerca de R$ 800,00 pago aos presidiários, sem mencionar o quanto cada um custa ao Estado.
Convido vocês e a todos os estudantes combativos, que não se venderam ao governo, para assinar e divulgar este meu abaixo-assinado, acessando o site "Petição Pública, no link que segue abaixo [http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoVer.aspx?pi=P2010N4811]

Anônimo disse...

REEC, UNE, UJS, LER-Q...acho que no fim das contas nenhuma faz porra alguma pra valer...pelo que vi, todas só fazem moção-ata-protesto-moção-ata-ad infinitum...
Minha real pergunta é, o que fazer de verdade? Pois só discutir não acho que é o grande lance.
Partir pra educação e mudar na base? Acho que essa ideia é louvável, mas a burocracia e regras estupidas impedem a total autonomia do professor para com a classe, fora a patrulha ideológica dos superiores...
Ir para passeatas e manifestações, ou algo assim? Tomar cacetada, mesmo olhando a ação dum ponto de vista a la Leviatã, não me atrai em nada.
Acho que o lance mesmo é uma educação além-escola, e ações mais inteligentes, lendo as leis, vendo o exemplo do anonymous, se apoderar de conhecimento e usar este contra o sistema é o melhor.