Brasil, junho de 2013 - Comunicado Nacional da RECC nº 15
PORQUE NÃO FOMOS AOS CONGRESSOS DA UNE E DA ANEL
Quando em
2003 o Governo Lula tomou assento na presidência da Republica, a UNE já não era
mais um símbolo de combatividade tal como fora durante o período da
ditadura-civil militar (1964-1989). Neste período, organizações revolucionárias
dirigiam esta entidade e foram ponta de lança no combate a ditadura. Porém
desde 1979 com a Reconstrução da UNE, a entidade dava sinais progressivos de sua
burocratização, sobretudo aceitando a política reformista de atrelar o
movimento estudantil (ME) às candidaturas eleitorais estatais levada a cabo
pela UJS (juventude do PCdoB), partido que desde então mantem-se quase
intocável na diretoria da UNE. Mas foi com a eleição do PT ao Governo Federal
que a UNE, junto a CUT, passaram a ser extensão do governo no movimento
estudantil e sindical, respectivamente.
Houve assim
um salto de qualidade negativo, um marco de saturação e limite para atuação
estudantil nesta entidade. A UNE assumiu um papel fundamental na defesa e
aplicabilidade de projetos neoliberais para educação, tais como o PROUNI, FIES
e REUNI. Diante da transição pacífica dos movimentos sociais à base de
sustentação governista, ficou patente uma necessidade de re-organizar as lutas
por fora dessa entidade a serviço do neoliberalismo. A reforma da previdência
do Governo Lula em 2004 e a greve em resposta do serviço público federal prepararam
as condições para a ruptura com a CUT que apoiou esta reforma neoliberal do
governo. Suscitando também o debate sobre a necessidade de ruptura com a UNE
governista para preparar as mobilizações estudantis.
Nesse
contexto, diversos setores de oposição ao governismo fundam a Conlutas e, a
nível estudantil, a Conlute (em ambas o PSTU assumia a direção majoritária). A
Conlute, apesar de suas limitações que não expressaremos aqui, se propunha não
ser uma entidade representativa em si, mas sim coordenar entidades
anti-governistas e estimulou corretamente uma dezenas destas (como DCE, CAs,
DAs e Executivas de Curso) a romperem com a UNE como fundamento para re-organizar o ME a nível nacional. Por sua vez, o projeto da Conlutas era construir-se
como uma central que unificasse as lutas de todos trabalhadores – formais e
informais, empregados e desempregados, os movimentos populares do campo e da
cidade e também o movimento estudantil, tal como a COB boliviana, ou seja: uma sindical-popular-estudantil.
A Conlutas incorporava desta forma o papel
estratégico que o Movimento Estudantil pode ter na luta de classes, e a Conlute
integrava organicamente a Conlutas.
Estava posto
assim condições fundamentais para uma re-organização do ME por fora do Governo.
Esta re-organização ficou patente na luta contra o REUNI que foi bandeira comum
em mais de 20 ocupações de reitorias em Universidades Federais no Brasil entre
2006 e 2008. Tais movimentos de massa evidenciaram novamente a contradição entre
os interesses estudantis e os da UNE que defendia esse projeto do Governo que tornou
precárias as Universidades. Mais uma vez ficava claro a falência da UNE para as
lutas.
A
re-organização do ME por fora da UNE foi se consolidando para além da Conlute através
da ruptura dos movimentos de área com o governismo (tais como Pedagogia,
Educação Física, Comunicação Social, Serviço Social, Agronomia etc.). Interessante
observar que esses encontros de área foram fundamentais também na
re-organização dos estudantes na década de 70 após o desmantelamento do 30º
Congresso da UNE em 1968 e sua desarticulação pela repressão. Importantes então
na luta contra a Ditadura Civil-Militar, os movimentos de área foram aos poucos
se perdendo na apolítica e meros festejos. Porém essas rupturas na década de
2000 com a UNE demonstraram uma parcial retomada da combatividade e crítica nos
encontros de área. Na opinião da RECC, estes movimentos de área são
fundamentais na re-organização do ME a nível local e nacional, porém tanto UNE
quanto ANEL secundarizam tais espaços.
Entretanto o
projeto original da Conlutas de romper pela base com o governo foi sendo
deixado de lado progressivamente pela sua diretoria majoritária (o PSTU), que
articulou várias chapas unificadas com setores do governo como PT e PC do B nos
Correios, Eletricitários etc. No Congresso da Conlutas de Betim-MG, em 2008,
ficou claro a inciativa do PSTU de liquidar a Central na intenção de rebaixar
seu programa e organização para conseguir se unificar com a esquerda da CUT
(Intersindical) via os setores do Psol.
Desde 2007
quando iniciaram os debates para a fusão da Conlutas-Intersindical, a condição
da Intersindical para a fundir-se era de que a nova entidade surgida daí
tivesse um caráter puramente sindical. Isto implicou diretamente a linha
estudantil do PSTU. Assim, nasce a Anel em 2009 no Congresso Nacional de
Estudantes (CNE), como síntese da linha liquidacionista da Conlutas e
sinalização à Intersindical (Psol) para a futura fusão que em tese ocorreria em
2010 – em tese, pois na prática foi um fiasco. A Anel, entretanto, foi um
retrocesso em relação a criação da Conlute ao: 1) Se propor ser uma entidade
estudantil representativa, quando não havia condições de organização de base
nem debate político suficiente para tal, consolidando-se como uma
superestrutura; 2) Ao colocar em seus documentos que os estudantes podem
participar ao mesmo tempo da UNE e da Anel, em um claro retrocesso com o
objetivo de ganhar setores do Psol que disputam cargos dentro da UNE – a
chamada Oposição de Esquerda (OE).
Resumindo, a Anel surge em 2009 nas vias e desvios do
PSTU na reorganização estudantil (com a Conlute e a “Frente de Luta”). Surge
principalmente ao ter o PSTU aberto mão da aliança orgânica entre estudantes e
trabalhadores presente no projeto original da Conlutas ao concordar e reduzir,
definitivamente, o poder deliberativo e a importância política do movimento
estudantil na então CSP-Conlutas (fundada em 2010) frente às exigências de
unificação com a Intersindical (Psol). Cabia assim à Anel aglomerar a frente
estudantil do PSTU para que essa não se dispersasse diante do muro erguido ao
estudantado pela CSP-Conlutas, ao mesmo tempo em que serviria de canal aberto
para colaboração com os setores de dentro da UNE – principalmente a juventude
do Psol (OE-UNE). Sua hoje arrogada “unidade estudantil-proletária” na
CSP-Conlutas se dá em meio à um procedimento simbólico do ME como assessório
secundário da luta de classes.
Setores que
haviam participado da Conlute, como a Oposição CCI (DF) e a ADE (RJ), não
satisfeitos com a politica que o PSTU levava a cabo no movimento estudantil,
produziram uma Tese no Congresso que fundou a Anel. Nesta Tese (que você pode
conferir em www.redeclasses.blogspot.com), colocávamos que não havia apenas uma
crise de direção no ME, e que apenas rompendo com a UNE mas reproduzindo
seus métodos não iríamos avançar na re-organização a nível nacional. Pois há
também uma crise de organização no ME fruto do Parlamentarismo
Estudantil, que reproduz métodos do parlamento burguês nas entidades de
base no ME, como acordos de cúpula, aparelhamentos e burocratismo etc. Dessa
forma há um distanciamento entre as entidades de base (CA's. DCE´s, Executivas)
do conjunto dos estudantes. Na ocasião, a Tese propunha a organização de
coletivos e oposições de base em escolas e cursos para tentar quebrar esse distanciamento,
o caminho assim para superar a atual crise de organização era (e é) a organização
pela base. No CNE, o setor autor desta Tese, em conjunto com estudantes
de vários estados do Brasil, convocou uma Plenária (Plenária Nacional dos Estudantes
Classistas e Combativos) com o objetivo de criar uma Rede Estudantil que
agremiasse esses coletivos de base e que pudesse organizar essas lutas a nível
nacional. Nascia ali a RECC, em paralelo à criação burocrática da Anel e ao
governismo da UNE. Importante ressaltar que a RECC não se arroga o caráter de
entidade representativa, mas sim de corrente estudantil atuando nas bases do ME.
A reprodução
dos métodos da UNE governista pela ANEL ficou claro já durante o CNE, no qual,
apesar das criticas de diversos setores de oposição, a entidade foi
votada/criada antes de mesmo de se votar seu conteúdo programático, pautas reivindicativas e tarefas organizativas! Criar a “forma” antes da “essência” seria só o
prelúdio para abrigar o imediatismo oportunista do PSTU de “substituir” a UNE. Ocorre
que não se reorganiza o ME sob decreto, não se supera 30 anos de influência
reformista do PT e PCdoB com a institucionalização de uma nova sigla. Não havia
amadurecimento e experiência de lutas políticas entre as bases estudantis para criar
uma nova entidade representativa, e a Anel não avançou neste sentido, portanto nasce
e se desenvolve sem legitimidade. A criação de uma nova sigla mostrou-se um mero
formalismo unilateral do PSTU para manter sua luta burocrática e indireta, onde
ao invés de atuar junto às bases prefere-se a luta por espaço nos aparatos –
neste caso, um aparato cuja força política de sustentação é apenas o PSTU.
A Anel é o “novo”
que já nasceu “velho”. Além de se organizar pelo topo e não pela base, o CNE
definiu para a Anel seu norte de “participação no
processo eleitoral e apoio a candidaturas” ao Estado, reeditando o mesmo germe
reformista da UNE em sua Reconstrução em 1979; em seu 1º Congresso, adotou um
plebiscito como tática central de luta pelos 10% do PIB para a educação, um
método de reivindicação alegórico por uma bandeira burguesa já que é
financiamento voltado aos marcos do novo PNE (Plano Nacional de Educação)
privatista do Governo; e no 2º Congresso, o tema central foi a luta intra-parlamentar
contra o reacionário deputado Marcos Feliciano, em
defesa da ética na Comissão
dos Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, reeditando a ilusão de
democratização e moralização do Estado que por essência é imoral pois é agente
de exploração econômica e opressão política!
Ao lermos na Cartilha de Grêmio da Anel –
“Quando fundamos a ANEL, tínhamos uma tarefa muito
importante, a de resgatar os princípios e bandeiras que a UNE deixou de lado
quando se aliou ao governo”
– constatamos que o PSTU e consequentemente a Anel nada compreenderam da
história. E esta se repete
primeiro como farsa, depois como tragédia. A Anel é a farsa por reeditar o
germe da política eleitoreira e burocrática da UNE! Evitemos a tragédia! Uma política responsável de re-organização
estudantil não pode pôr carroça na frente de bois: ou assumimos nossa tarefa de
um paciente e persistente trabalho de base cotidiano, pautado nas
intransigentes necessidades dos estudantes-trabalhadores via ação direta de
massas, ou o movimento estudantil nacional continuará refém das lutas efêmeras,
desarticuladas entre si e subordinadas às eleições estatais e ao parlamento
burguês. A RECC optou definitivamente pela primeira via: a via combativa dos
estudantes e trabalhadores! E dela não damos nenhum passo atrás!
Nem UNE governista e nem ANEL burocrática!
Re-organizar o Movimento Estudantil Nacional através da construção das
Oposições Por Local de Estudo!
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