Nós, da Oposição
Classista Combativa e Autônoma ao DCE da UFG, filiada a Rede
Estudantil Classista e Combativa, que inicialmente compunha a
construção da Chapa 1 ao DCE da UFG, Zumbi dos Palmares, vimos por
meio desta declarar nossa ruptura. A chapa, que teve como orientação
programática inicial alguns de nossos documentos, demonstrou ao
longo de sua construção vários problemas, que nos levaram a
decisão de sair da composição, problemas que pretendemos abordar
ao longo desta.
Em meados de julho, foi
convocada em Goiânia uma reunião para discutir a construção de
uma chapa anti-governista, pretendendo uma disputa ao DCE que
rompesse tanto com a dependência de partidos ligados ao governo (PT
e PC do B), quanto com os partidos paragovernistas (PSTU, PSOL, PCB),
pautando, portanto, a disputa de um DCE independente de qualquer
partido legal, que dispute o parlamento burguês, entendendo que essa
independência é necessária para a construção de um Movimento
Estudantil que atenda os interesses dos estudantes trabalhadores,
filhos da classe.
Além dessas duas
características, entendeu-se também que era necessário construir
uma gestão baseada na democracia de base, ou seja, na construção
da gestão partindo de órgãos deliberativos gerais, atribuindo à
gestão o papel de cumprir as demandas exigidas pelas bases
estudantis. Outro importante método seria o da combatividade,
garantindo que a luta se dê pelos próprios estudantes e não
através de instâncias burocráticas que contribuem com a
despolitização dos estudantes e não são democráticas.
Esses princípios, bem
como as bandeiras de luta da chapa, foram discutidos e amadurecidos
em quase todas as reuniões (lê-se quase, pois houve uma mudança
que será comentada mais adiante), possibilitando a construção de
um bom programa de chapa, que tinha a possibilidade de levar aos
estudantes uma discussão política qualificada. No entanto, alguns
problemas surgiram ao longo do processo de discussão, que
modificaram um pouco o rumo da construção.
A dificuldade de
articulação entre os possíveis integrantes da chapa é um dos
pontos que deve ser tocado. Reuniões esvaziadas, somado à
dificuldade de cumprir determinadas tarefas essenciais, como a
redação do programa, resultou grande desorganização já na
construção. Esse processo inicial se demonstrou bastante frágil,
interferindo também na expansão da chapa de maneira qualitativa,
sem discussões aprofundadas entre todos os integrantes, mas apenas
entre a minoria que participava de todas as reuniões. Na tentativa
de cumprir com os requisitos mínimos exigidos pelo edital, a
construção acabou se tornando uma busca quantitativa, sem a devida
preocupação com a discussão política interna.
Essa expansão numérica
também se demonstrou bastante problemática na “inserção” dos
estudantes dos campi do interior, que, mesmo com a certeza de
participação na chapa, não tiveram direito de voz e nem mesmo de
voto nos espaços deliberativos, que continuaram acontecendo apenas
em Goiânia. Mesmo após nós da CCA apontarmos várias vezes a
necessidade de inserir os interiores na construção, através de
reuniões virtuais ou mesmo presenciais, quando possível, não houve
essa preocupação pela maioria da chapa, mantendo a centralização
nos integrantes de Goiânia. Houve ainda a desculpa de que era
necessário agilizar a construção e por isso centralizá-la em
Goiânia. No entanto, é evidente que essa desculpa não é válida,
tendo em vista que a participação dos companheiros dos campi do
interior poderiam ter contribuído de maneira valorosa no cumprimento
das tarefas dentro do prazo necessário, descarregando os camaradas
que ficaram sobrecarregados na construção, e fortalecendo-a de
maneira democrática, estreitando as relações dos estudantes de
todos os campi.
A exclusão dos
interiores nas discussões é evidente mais uma vez, e bastante
preocupante. Se a chapa, que tem como proposta uma construção
partindo da democracia de base, não consegue combater o modelo
excludente e anti-democrático em seu interior, é evidente que a
possível gestão também enfrentará os mesmos problemas. A
construção de maneira democrática deveria ser um esforço dos
próprios integrantes da chapa, que pretendem uma construção
sincera. Sendo assim, cabe a reflexão, de quê adianta um programa
bem definido se não há o esforço para colocá-lo em prática?
Aproximando-se a data
de inscrição das chapas, o descomprometimento programático se
tornou mais evidente, e a desorganização acumulada anteriormente,
com sobrecarregamento de alguns militantes, trouxe outro ponto
bastante prejudicial, que deve ser levado em consideração. A
redação do programa só ficou pronta nos últimos dias e só então
a chapa pôde ser realmente apresentada aos estudantes dos campi do
interior, que até então só haviam recebido informes superficiais
sobre o que se discutia, e a aqueles que não acompanharam o
surgimento das discussões. O documento apresentado estava bem
definido, demonstrando uma discussão fundamentada, com
reivindicações delimitadas de maneira bastante compreensível.
Faltando apenas uma
semana para o prazo de inscrição, ocorreu um último fato que deve
ser analisado. O companheiro do MEPR, apoiador
da chapa, lançou no grupo de facebook uma proposta de alteração
dos princípios. Sob o pretexto de facilitar a compreensão do
programa, foi apresentado um texto bastante diluído, rebaixando
todas as discussões que haviam sido acumuladas até o momento, e
excluindo da redação dois princípios essenciais que deveriam
constar de maneira evidente e bem definida, o classismo
e o
antigovernismo.
É importante lembrar que essa proposta de alteração foi feita
“coincidentemente” na semana que nós da RECC estaríamos no
ENEH, impedindo nossa participação nessa deliberação.
Desse novo documento de
princípios, entendemos ser necessário questionar dois pontos
principais. Primeiramente, se a proposta inicial de disputa da gestão
do DCE foi pautada na necessidade de combater o governismo, por
qual motivo o princípio do anti-governismo foi praticamente excluído
da nova redação, inserido apenas de maneira diluída dentro do
princípio de independência?
Não seria necessário deixá-lo bem evidente? Segundo, qual foi o
motivo da exclusão do princípio do classismo? A chapa passa a
defender interesses de classes antagônicas?
Sobre o primeiro ponto,
entendemos como um erro tático irremediável. Se a disputa foi
pautada inicialmente com foco na polarização ao governismo, é
essencial deixar isso bastante evidente, inclusive no nome e em motes
da chapa. Não faz o mínimo sentido recuar a discussão e pouco
pontuar nosso posicionamento em relação ao governo e à disputa do
parlamento. Em nossa análise, a desorganização durante o processo
de construção foi essencial para a perda do objetivo principal,
levando à diluição das discussões que foram construídas durante
todo o processo.
O segundo ponto é
ainda mais preocupante, pois o classismo foi excluído totalmente da
nova proposta e em nenhum momento aparece nos princípios um
posicionamento claro da chapa em relação à luta de classes. Para
nós, as intenções da nova proposta são bastante claras e tem
relação com o posicionamento teórico do camarada que a apresentou.
O MEPR tem como concepção a necessidade de disputa da pequena
burguesia, pois entendem esta com potencial revolucionário, como se
houvesse possibilidade de conciliar interesses antagônicos. Para
além da discussão teórica, que deveria ter sido aprofundada, é
necessário também levar em consideração o momento que a proposta
de alteração foi feita. Aproveitou-se um momento de ausência da
RECC, que polarizaria a alteração do documento, e, enquanto
participávamos do ENEH, a proposta foi votada, substituindo toda a
discussão que havia sido acumulada anteriormente.
Por fim, cabe ressaltar
que a proposta do camarada veio justificada com a necessidade de
deixar claro o texto dos princípios, para facilitar o entendimento
ao estudantado. Sobre isso, duas questões devem ser consideradas. A
primeira delas, é que o texto redigido anteriormente estava bastante
claro, rico de conteúdo, resultado dos debates para sua construção.
Em segundo, cabe lembrar que o programa não deve ser rebaixado em
consequência da conjuntura de despolitização dos estudantes. Se
atualmente a conjuntura política na UFG é de refluxo, a tarefa dos
militantes do Movimento Estudantil não é se adequar a esse
contexto, mas de impulsionar a discussão, buscando modificar esse
cenário. Não devemos recuar em nossas propostas, AVANTE SEMPRE!
Oposição
Classista, Combativa e Autônoma ao DCE da UFG.
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