segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Por que rompemos com a Chapa 1 “Zumbi dos Palmares”

Nós, da Oposição Classista Combativa e Autônoma ao DCE da UFG, filiada a Rede Estudantil Classista e Combativa, que inicialmente compunha a construção da Chapa 1 ao DCE da UFG, Zumbi dos Palmares, vimos por meio desta declarar nossa ruptura. A chapa, que teve como orientação programática inicial alguns de nossos documentos, demonstrou ao longo de sua construção vários problemas, que nos levaram a decisão de sair da composição, problemas que pretendemos abordar ao longo desta.

Em meados de julho, foi convocada em Goiânia uma reunião para discutir a construção de uma chapa anti-governista, pretendendo uma disputa ao DCE que rompesse tanto com a dependência de partidos ligados ao governo (PT e PC do B), quanto com os partidos paragovernistas (PSTU, PSOL, PCB), pautando, portanto, a disputa de um DCE independente de qualquer partido legal, que dispute o parlamento burguês, entendendo que essa independência é necessária para a construção de um Movimento Estudantil que atenda os interesses dos estudantes trabalhadores, filhos da classe.
Além dessas duas características, entendeu-se também que era necessário construir uma gestão baseada na democracia de base, ou seja, na construção da gestão partindo de órgãos deliberativos gerais, atribuindo à gestão o papel de cumprir as demandas exigidas pelas bases estudantis. Outro importante método seria o da combatividade, garantindo que a luta se dê pelos próprios estudantes e não através de instâncias burocráticas que contribuem com a despolitização dos estudantes e não são democráticas.
Esses princípios, bem como as bandeiras de luta da chapa, foram discutidos e amadurecidos em quase todas as reuniões (lê-se quase, pois houve uma mudança que será comentada mais adiante), possibilitando a construção de um bom programa de chapa, que tinha a possibilidade de levar aos estudantes uma discussão política qualificada. No entanto, alguns problemas surgiram ao longo do processo de discussão, que modificaram um pouco o rumo da construção.
A dificuldade de articulação entre os possíveis integrantes da chapa é um dos pontos que deve ser tocado. Reuniões esvaziadas, somado à dificuldade de cumprir determinadas tarefas essenciais, como a redação do programa, resultou grande desorganização já na construção. Esse processo inicial se demonstrou bastante frágil, interferindo também na expansão da chapa de maneira qualitativa, sem discussões aprofundadas entre todos os integrantes, mas apenas entre a minoria que participava de todas as reuniões. Na tentativa de cumprir com os requisitos mínimos exigidos pelo edital, a construção acabou se tornando uma busca quantitativa, sem a devida preocupação com a discussão política interna.
Essa expansão numérica também se demonstrou bastante problemática na “inserção” dos estudantes dos campi do interior, que, mesmo com a certeza de participação na chapa, não tiveram direito de voz e nem mesmo de voto nos espaços deliberativos, que continuaram acontecendo apenas em Goiânia. Mesmo após nós da CCA apontarmos várias vezes a necessidade de inserir os interiores na construção, através de reuniões virtuais ou mesmo presenciais, quando possível, não houve essa preocupação pela maioria da chapa, mantendo a centralização nos integrantes de Goiânia. Houve ainda a desculpa de que era necessário agilizar a construção e por isso centralizá-la em Goiânia. No entanto, é evidente que essa desculpa não é válida, tendo em vista que a participação dos companheiros dos campi do interior poderiam ter contribuído de maneira valorosa no cumprimento das tarefas dentro do prazo necessário, descarregando os camaradas que ficaram sobrecarregados na construção, e fortalecendo-a de maneira democrática, estreitando as relações dos estudantes de todos os campi.
A exclusão dos interiores nas discussões é evidente mais uma vez, e bastante preocupante. Se a chapa, que tem como proposta uma construção partindo da democracia de base, não consegue combater o modelo excludente e anti-democrático em seu interior, é evidente que a possível gestão também enfrentará os mesmos problemas. A construção de maneira democrática deveria ser um esforço dos próprios integrantes da chapa, que pretendem uma construção sincera. Sendo assim, cabe a reflexão, de quê adianta um programa bem definido se não há o esforço para colocá-lo em prática?
Aproximando-se a data de inscrição das chapas, o descomprometimento programático se tornou mais evidente, e a desorganização acumulada anteriormente, com sobrecarregamento de alguns militantes, trouxe outro ponto bastante prejudicial, que deve ser levado em consideração. A redação do programa só ficou pronta nos últimos dias e só então a chapa pôde ser realmente apresentada aos estudantes dos campi do interior, que até então só haviam recebido informes superficiais sobre o que se discutia, e a aqueles que não acompanharam o surgimento das discussões. O documento apresentado estava bem definido, demonstrando uma discussão fundamentada, com reivindicações delimitadas de maneira bastante compreensível.
Faltando apenas uma semana para o prazo de inscrição, ocorreu um último fato que deve ser analisado. O companheiro do MEPR, apoiador da chapa, lançou no grupo de facebook uma proposta de alteração dos princípios. Sob o pretexto de facilitar a compreensão do programa, foi apresentado um texto bastante diluído, rebaixando todas as discussões que haviam sido acumuladas até o momento, e excluindo da redação dois princípios essenciais que deveriam constar de maneira evidente e bem definida, o classismo e o antigovernismo. É importante lembrar que essa proposta de alteração foi feita “coincidentemente” na semana que nós da RECC estaríamos no ENEH, impedindo nossa participação nessa deliberação.
Desse novo documento de princípios, entendemos ser necessário questionar dois pontos principais. Primeiramente, se a proposta inicial de disputa da gestão do DCE foi pautada na necessidade de combater o governismo, por qual motivo o princípio do anti-governismo foi praticamente excluído da nova redação, inserido apenas de maneira diluída dentro do princípio de independência? Não seria necessário deixá-lo bem evidente? Segundo, qual foi o motivo da exclusão do princípio do classismo? A chapa passa a defender interesses de classes antagônicas?
Sobre o primeiro ponto, entendemos como um erro tático irremediável. Se a disputa foi pautada inicialmente com foco na polarização ao governismo, é essencial deixar isso bastante evidente, inclusive no nome e em motes da chapa. Não faz o mínimo sentido recuar a discussão e pouco pontuar nosso posicionamento em relação ao governo e à disputa do parlamento. Em nossa análise, a desorganização durante o processo de construção foi essencial para a perda do objetivo principal, levando à diluição das discussões que foram construídas durante todo o processo.
O segundo ponto é ainda mais preocupante, pois o classismo foi excluído totalmente da nova proposta e em nenhum momento aparece nos princípios um posicionamento claro da chapa em relação à luta de classes. Para nós, as intenções da nova proposta são bastante claras e tem relação com o posicionamento teórico do camarada que a apresentou. O MEPR tem como concepção a necessidade de disputa da pequena burguesia, pois entendem esta com potencial revolucionário, como se houvesse possibilidade de conciliar interesses antagônicos. Para além da discussão teórica, que deveria ter sido aprofundada, é necessário também levar em consideração o momento que a proposta de alteração foi feita. Aproveitou-se um momento de ausência da RECC, que polarizaria a alteração do documento, e, enquanto participávamos do ENEH, a proposta foi votada, substituindo toda a discussão que havia sido acumulada anteriormente.
Por fim, cabe ressaltar que a proposta do camarada veio justificada com a necessidade de deixar claro o texto dos princípios, para facilitar o entendimento ao estudantado. Sobre isso, duas questões devem ser consideradas. A primeira delas, é que o texto redigido anteriormente estava bastante claro, rico de conteúdo, resultado dos debates para sua construção. Em segundo, cabe lembrar que o programa não deve ser rebaixado em consequência da conjuntura de despolitização dos estudantes. Se atualmente a conjuntura política na UFG é de refluxo, a tarefa dos militantes do Movimento Estudantil não é se adequar a esse contexto, mas de impulsionar a discussão, buscando modificar esse cenário. Não devemos recuar em nossas propostas, AVANTE SEMPRE!

Oposição Classista, Combativa e Autônoma ao DCE da UFG.

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