Publicado no jornal AVANTE! nº08
As relações de propriedade e produção definem a sociedade dividida em classes e determinam quem serão os exploradores e os explorados. Para além da diferenciação de classes, existem ainda outras baseadas em diferenças de etnia, nacionalidade, gênero e geração. Mesmo tendo surgido em período anterior, o capitalismo se apropria dessas diferenciações e dá a elas um novo sentido – passam a ser uma ferramenta para acentuar o processo de domesticação e exploração dos não possuidores.
As ideologias dominantes usam dessas diferenças para
determinar o lugar de negros, indígenas, mulheres, jovens e homoafetivos na sociedade e no mundo do trabalho, transformando-os assim em setores duplamente oprimidos, já que a discriminação passa a ser realizada também através da superexploração do trabalho – com diferenças salariais, de condições de trabalho, com assédio moral etc.
Frações isoladas do proletariado são incapazes de conduzir um processo de abolição do Estado e do capital. Entendendo isso, a burguesia estrategicamente faz com que sua ideologia excludente seja assimilada pela classe trabalhadora com o claro objetivo de dividí-la, atravancar sua organização para a luta e obter maiores taxas de lucro. Por esse motivo, a mídia, a igreja, a escola e a família são transformadas em propagadores de valores castradores, conservadores e opressores. A classe trabalhadora é massacrada de fora pra dentro e de dentro pra fora, cotidianamente, pelo machismo, racismo, homofobia, transfobia, lesbofobia, entre outras distintas formas de opressão.
Esses setores historicamente oprimidos hoje começam a vislumbrar possibilidades de combater as opressões, mas em geral estão reféns das tendências pós-modernas que desacredita na luta macro (disputa entre as classes) e privilegia apenas as microesferas culturais, o que origina o individualismo e o policlassismo das lutas setoriais. Essa perspectiva condena a organização desses setores ao reformismo imobilista, que se limita às reivindicações de visibilidade ou reconhecimento e concessões do Estado burguês, através de projetos de lei ou campanhas publicitárias.
Contrapondo a ilusão da conquista meramente parcial de direitos e do empoderamento, a via classista de combate às opressões aponta a necessidade do protagonismo dos setores oprimidos da classe trabalhadora, que devem assumir a ação direta e se colocar na linha de frente do processo de derrubada da burguesia que lucra com toda forma de opressão e do Estado que as produz e reproduz. ■
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