segunda-feira, 27 de maio de 2013

GREVE NAS UNIVERSIDADES FEDERAIS:



2012: Balanços e perspectivas


       O ano de 2012 pôs em evidência as precárias condições de trabalho e estudo no setor da educação, principalmente através da greve dos docentes das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES). Esta greve foi convocada pelo ANDES-SN, e teve início no dia 17 de maio de 2012, contando com 50 instituições em greve por tempo indeterminado. Acompanhando a greve docente, estudantes de no mínimo 30 Universidades Federais também deflagraram Greve Estudantil.
      Podemos refletir sobre a Greve de dois modos, interligados entre si: a da indagação do que foi o movimento grevista e as razões de seu limitado desenvolvimento. O pano de fundo da política educacional e econômica do Governo já foi brevemente discutido no Comunicado Nacional da RECC nº10. Portanto nos deteremos aqui nos problemas do desenvolvimento da greve, em especial a estudantil.
       Mas por qual motivo, um ano após a ocorrência desta Greve, decidimos retomar este debate? Essa análise/balanço é fundamental, pois apesar desta greve ter atingido muitas universidades/institutos federais e também o serviço público federal, é preciso entender o motivo deste movimento não ter obtido êxito completo em suas reivindicações. Aprender com os nossos erros enquanto classe não nos deixa desiludir frente as batalhas perdidas, e nos permite superar tais erros para em um futuro próximo avançar em uma mobilização mais forte para arrancar nossas pautas do Governo. O Comando Nacional de Greve Estudantil (CNGE) foi uma boa iniciativa, contudo este sofreu vários problemas organizativos e de representatividade que analisaremos aqui:
       Os quatro problemas chaves que avaliamos como motivos centrais para impedir o desenvolvimento da greve estudantil foram: 1) Grevismo; 2) Corporativismo; 3) Crise de direção; 4) Crise de Organização:
Marcha Nacional em Brasília (05/06/2012) - Impedidos pela PM e pela UNE de entrar no MEC, estudantes apedrejaram as vidraças do órgão. PSTU também esteve a frente para cessar o enfrentamento.



1) O grevismo, ou seja, a simples deflagração da greve com o objetivo apenas de conscientizar a sociedade e sensibilizar parlamentares. Defendemos, ao contrário, a ação direta de massas como via de enfrentamento com o governo, pois compreendemos que este só acata nossas propostas na medida em que avançamos na ação direta (fechamentos de ruas, ocupações de prédios públicos etc.), e assim fazemos o governo recuar. Os trabalhadores é que devem resolver os seus próprios problemas. Não podemos aceitar as alegações de “falta de condições” para as ações de radicalização vinda dos partido eleitoreiros e burocratas, pois estas condições não cairão do céu: ou preparamo-las desde já nas oportunidades de luta, ou de fato nunca haverá condições de radicalização. 

2) O corporativismo foi fundamental para dividir os trabalhadores e assim fortalecer o Governo. Isso se deu logo de início, quando as categorias do Serviço Público Federal da Educação saíram em greve em momentos diferentes, facilitando para que o Governo lançasse propostas diferentes para cada setor, originando assim uma divisão dentro do movimento. O corporativismo impediu também a realização de assembleias unificadas entre os setores que até então compunham a greve na educação superior, essa experiência de assembleias unificadas ocorreu em pouquíssimos casos, nas Federais. Não se tratava de um problema de unidade da “esquerda”, como as correntes ligadas ao PSOL diziam, mas sim de falta de unidade de base das categorias em Luta da Educação e do Serviço Público Federal (SPF).
Enquanto a UNE "negociava" com MEC pelas costas do movimento, estudantes buscavam atos de radicalização, apesar das travas do PSTU e PSOL.

3) A crise de direção se materializa nos problemas enfrentados durante a greve pelo movimento estudantil e tem seu exemplo na disputa pela UNE, hegemonizada pelo governismo e disputada por dentro por setores paragovernistas (Oposição de Esquerda/PSOL). Durante a greve, isso ficou evidente quando o CNGE tentou negociar com o Governo as reivindicações da base, e a pelega UNE se apresentou como legítima representação estudantil - entidade essa que não apenas apoia o Governo como também produz e reproduz programas neoliberais em parceria com o MEC em uma relação orgânica com ele, ou seja, a UNE é o Governo no movimento estudantil. Portanto, quando o Governo impunha um canal de diálogo de forma exclusiva com a UNE, ignorando o CNGE, estava na verdade “negociando” consigo mesmo, seu “alter ego”.

4) A crise de organização, que ficou evidente na incompreensão e desrespeito aos espaços de base em várias experiências de comando de greve estudantil local. Um comando de greve deveria ser composto por uma representação eleita na sua base. Para o setor paragovernista, o comando deveria ser composto por “quem fosse à reunião do comando”, mesmo que este nunca tivesse ido até sua base, nem em tempos de aula! A compreensão/caracterização de comando de greve dos setores paragovernistas explicita sua prática oportunista de distanciamento das bases e coloca todo o movimento a perder, pois sem o apoio do conjunto dos estudantes o comando tornou-se um espaço superestrutural a serviço apenas de estudantes profissionais que se dedicam exclusivamente aos espaços de decisão do movimento, sem ao menos irem às suas bases. Para construirmos uma greve forte é necessário dar poder às bases e construir comandos de greve a partir de comitês de greve eleitos em cada curso, para que o comando seja uma representação da base e refletir as necessidades eminentemente locais. Unir todos os setores da Universidade em luta, inclusive terceirizados, em Assembleias Unificadas, e se utilizar dos métodos da ação direta para tomarmos nossas reivindicações das mãos do governo! ■

Nenhum comentário: