2012: Balanços e perspectivas
O ano de 2012 pôs em evidência as precárias condições de
trabalho e estudo no setor da educação, principalmente através da greve dos
docentes das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES). Esta greve foi
convocada pelo ANDES-SN, e teve início no dia 17 de maio de 2012, contando com
50 instituições em greve por tempo indeterminado. Acompanhando a greve docente,
estudantes de no mínimo 30 Universidades Federais também deflagraram Greve
Estudantil.
Podemos refletir sobre a Greve de dois modos, interligados
entre si: a da indagação do que foi o movimento grevista e as razões de seu
limitado desenvolvimento. O pano de fundo da política educacional e econômica
do Governo já foi brevemente discutido no Comunicado Nacional da RECC nº10.
Portanto nos deteremos aqui nos problemas do desenvolvimento da greve, em
especial a estudantil.
Mas por qual motivo, um ano após a ocorrência desta
Greve, decidimos retomar este debate? Essa análise/balanço é fundamental, pois
apesar desta greve ter atingido muitas universidades/institutos federais e
também o serviço público federal, é preciso entender o motivo deste movimento
não ter obtido êxito completo em suas reivindicações. Aprender com os nossos
erros enquanto classe não nos deixa desiludir frente as batalhas perdidas, e
nos permite superar tais erros para em um futuro próximo avançar em uma
mobilização mais forte para arrancar nossas pautas do Governo. O Comando
Nacional de Greve Estudantil (CNGE) foi uma boa iniciativa, contudo este sofreu
vários problemas organizativos e de representatividade que analisaremos aqui:
Os quatro problemas chaves que avaliamos como motivos
centrais para impedir o desenvolvimento da greve estudantil foram: 1) Grevismo;
2) Corporativismo; 3) Crise de direção; 4) Crise de Organização:
Marcha Nacional em Brasília (05/06/2012) - Impedidos pela PM e pela UNE de entrar no MEC, estudantes apedrejaram as vidraças do órgão. PSTU também esteve a frente para cessar o enfrentamento. |
1) O grevismo, ou seja,
a simples deflagração da greve com o objetivo apenas de conscientizar a
sociedade e sensibilizar parlamentares. Defendemos, ao contrário, a ação direta
de massas como via de enfrentamento com o governo, pois compreendemos que este
só acata nossas propostas na medida em que avançamos na ação direta
(fechamentos de ruas, ocupações de prédios públicos etc.), e assim fazemos o
governo recuar. Os trabalhadores é que devem resolver os seus próprios
problemas. Não podemos aceitar as alegações de “falta de condições” para as
ações de radicalização vinda dos partido eleitoreiros e burocratas, pois estas
condições não cairão do céu: ou preparamo-las desde já nas oportunidades de
luta, ou de fato nunca haverá condições de radicalização.
2) O corporativismo foi fundamental para dividir os trabalhadores e assim fortalecer o Governo. Isso se deu logo de início, quando as categorias do Serviço Público Federal da Educação saíram em greve em momentos diferentes, facilitando para que o Governo lançasse propostas diferentes para cada setor, originando assim uma divisão dentro do movimento. O corporativismo impediu também a realização de assembleias unificadas entre os setores que até então compunham a greve na educação superior, essa experiência de assembleias unificadas ocorreu em pouquíssimos casos, nas Federais. Não se tratava de um problema de unidade da “esquerda”, como as correntes ligadas ao PSOL diziam, mas sim de falta de unidade de base das categorias em Luta da Educação e do Serviço Público Federal (SPF).
2) O corporativismo foi fundamental para dividir os trabalhadores e assim fortalecer o Governo. Isso se deu logo de início, quando as categorias do Serviço Público Federal da Educação saíram em greve em momentos diferentes, facilitando para que o Governo lançasse propostas diferentes para cada setor, originando assim uma divisão dentro do movimento. O corporativismo impediu também a realização de assembleias unificadas entre os setores que até então compunham a greve na educação superior, essa experiência de assembleias unificadas ocorreu em pouquíssimos casos, nas Federais. Não se tratava de um problema de unidade da “esquerda”, como as correntes ligadas ao PSOL diziam, mas sim de falta de unidade de base das categorias em Luta da Educação e do Serviço Público Federal (SPF).
Enquanto a UNE "negociava" com MEC pelas costas do movimento, estudantes buscavam atos de radicalização, apesar das travas do PSTU e PSOL. |
3) A crise de direção se
materializa nos problemas enfrentados durante a greve pelo movimento estudantil
e tem seu exemplo na disputa pela UNE, hegemonizada pelo governismo e disputada
por dentro por setores paragovernistas (Oposição de Esquerda/PSOL). Durante a
greve, isso ficou evidente quando o CNGE tentou negociar com o Governo as
reivindicações da base, e a pelega UNE se apresentou como legítima
representação estudantil - entidade essa que não apenas apoia o Governo como
também produz e reproduz programas neoliberais em parceria com o MEC em uma
relação orgânica com ele, ou seja, a UNE é o Governo no movimento estudantil.
Portanto, quando o Governo impunha um canal de diálogo de forma exclusiva com a
UNE, ignorando o CNGE, estava na verdade “negociando” consigo mesmo, seu “alter
ego”.
4) A crise de organização,
que ficou evidente na incompreensão e desrespeito aos espaços de base em várias
experiências de comando de greve estudantil local. Um comando de greve deveria
ser composto por uma representação eleita na sua base. Para o setor
paragovernista, o comando deveria ser composto por “quem fosse à reunião do
comando”, mesmo que este nunca tivesse ido até sua base, nem em tempos de aula!
A compreensão/caracterização de comando de greve dos setores paragovernistas
explicita sua prática oportunista de distanciamento das bases e coloca todo o
movimento a perder, pois sem o apoio do conjunto dos estudantes o comando
tornou-se um espaço superestrutural a serviço apenas de estudantes
profissionais que se dedicam exclusivamente aos espaços de decisão do
movimento, sem ao menos irem às suas bases. Para construirmos uma greve forte é
necessário dar poder às bases e construir comandos de greve a partir de comitês
de greve eleitos em cada curso, para que o comando seja uma representação da
base e refletir as necessidades eminentemente locais. Unir todos os setores da
Universidade em luta, inclusive terceirizados, em Assembleias Unificadas, e se
utilizar dos métodos da ação direta para tomarmos nossas reivindicações das
mãos do governo! ■
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