O Dia Nacional de Luta dos Estudantes no Brasil e a Semana Nacional
Classista e Combativa: de 2010 à 2013
Quando em 2010 a RECC
deliberou pelo reconhecimento do dia 28 de Março como Dia Nacional de Luta dos
Estudantes e pela construção da Semana Nacional Classista e Combativa, tínhamos
apenas um protótipo de organização nacional estudantil, que era a RECC (nascida em junho de 2009), cuja
missão demonstrava-se ousada em razão da recusa da política e estrutura da UNE
(hegemonizada pelo PCdoB) e também da
recém-nascida ANEL (hegemonizada pelo PSTU). Apesar de ser natural o encontro e
composição em comum com estas forças no chão de nossas escolas, como em algumas
assembleias e atos etc., teríamos de fazê-lo na base da disputa de distintos
projetos políticos e organizativos. Mas isto se daria no chão de nossas escolas
e não na superestrutura destas entidades, e por isso não abandonamos os
“milhares” ou “centenas” de estudantes que creditam alguma confiança política
nelas – ao contrário, houveram diversos
casos de estudantes que romperam com os setores governistas e paragovernistas
para hoje militarem junto à RECC. Aparentava para muitos ser esta uma tática
suicida devido um suposto “isolamento”. Mas apesar da reconhecida notoriedade
nacional de UNE ou ANEL, podíamos dizer
que estas eram mais uma projeção ampliada de sua imagem do que de fato
representavam na realidade, ao menos nos locais (escolas e universidades) onde
a RECC atuava – até então, no Rio de Janeiro, Brasília e Fortaleza. Nem UNE nem
ANEL representavam, e ainda hoje continuam sem representar, uma base estudantil
mobilizada muito significativa em nossas realidades. Mas para fazer este
combate de concepções no interior do movimento estudantil – e disto dependia o
combate global ao governismo, diga-se de passagem –, a RECC precisaria não só
existir e se sustentar nas localidades, mas a partir daí ser capaz de coordenar
nacionalmente seus esforços, e mais, ampliar sua organização e propaganda para
outras cidades. É o que temos feito.
Foi
sem dúvida este
objetivo, além do resgate da tradição de luta combativa executada contra
a Ditadura Civil-Militar no Brasil, que orientou parcialmente nossa
opção por adotar o resgate do dia 28
de Março como o Dia Nacional de Luta dos Estudantes. Realizada então
desde
2010, a Semana Nacional Classista e Combativa teve sua proposta inicial bem
como sua aplicação aperfeiçoada com o tempo. Se inicialmente pretendíamos
agitar bandeiras nacionais nesta data, como do Passe Livre Irrestrito e do
Livre Acesso à Universidade, tão logo outros enfoques mostraram-se necessários
e potencialidades a ser exploradas. Se em 2010, realizamos massivas ações de
propaganda do boletim Avante! nº02,
de panfletos, diversas mesas de debate, vídeos e pinturas nas ruas e etc.
apenas em Fortaleza (CE), Brasília (DF) e Rio de Janeiro (RJ), já em 2011
pudemos verificar adesões à nossa proposta da “Semana”. Nesta segunda edição,
então, camaradas ou grupos de Goiânia (GO), do interior de São Paulo (SP) e de
Erechim (RS) juntaram-se à RECC, seja na distribuição do nosso Comunicado Nacional nº04 ou na organização de mostra de vídeos ou debates. Enquanto isso, enriquecíamos
nossa “Semana”: em Fortaleza, produzimos um pequeno filme agitativo e fizemos
culminar na “Semana” a luta travada desde o início de 2011 pelo Passe Livre Irrestrito em Fortaleza; no Rio de Janeiro, incrementamos as ações da “Semana”
com nossa participação em uma manifestação de professores e com ações de
organização do movimento de Serviço Social na UFF; e, em Brasília,
aproveitávamos a “Semana” para fazer preparativos da luta contra o corte
orçamentário de 50 bilhões pelo governo da Dilma (que resultou em um Ato secundarista e outro importante Bloco no “Ato de fachada” puxado pela ANEL no MEC) e atos de agitação em escolas secundaristas da periferia, além de massivas
propaganda de panfletos e Comunicados em todas estas cidades.
Em 2012, a RECC conseguiu dar um importante salto
qualitativo. Em decorrência de uma série de contatos travados em nossas cidades
e escolas/universidades possibilitadas pelas lutas travadas ali, ou por
contatos em outras cidades fruto da disciplinada e enérgica atuação da RECC nos
Encontros dos Movimentos de Área ou por lutas que tiveram projeção nacional –
como a ocupação da rampa do Palácio do Planalto e a Ocupação do Ministério doTrabalho, ambas contra o aumento salarial dos parlamentares –, iniciamos uma
política de Construção Nacional da RECC com a criação de Comitês de Propaganda
(CPs) e de Ingressos de Núcleos em novas localidades. Sedimentamos neste ano
articulação política com estudantes ou organizações de base em Goiânia (GO),
Marília (SP) e Salvador (BA), que participaram ativamente nas ações desta “Semana Nacional”. Mais ações de agitação e propaganda foram realizadas, com maior ou
menor efetividade. Conseguimos neste período superar na casa dos milhares nossa
remessa do boletim Avante! nº07 e do
Comunicado Nacional nº09, onde escrevíamos aí uma pequena porém importante síntese
da História e Concepção do Movimento Estudantil no Brasil.
Em 2013, na 4ª Edição da SNCC, consideramos ter
alcançado parcialmente nossos objetivos. E se colocarmos a avaliação em relação
ao baixo número de recursos humanos que a RECC dispõe (sua militância e
apoiadores), verificamos ainda assim ótimos saldos. Este ano, a SNCC foi
realizada em Brasília, Goiânia, Jataí, Salvador, Fortaleza, Rio de Janeiro e
Marília. Ao todo, nos fizemos presentes em cerca de 20 instituições de ensino
(escolas de ensino fundamental, médio, técnico, pré-vestibular e superior
pública e privada); realizamos mostra de vídeos e/ou debates que juntaram
presencialmente cerca de 900 estudantes; foram distribuídos mais de 4000
exemplares do Comunicado Nacional nº13; incontáveis boletins Avante!; dezenas ou centenas de cartazes
colados pelas ruas e escolas; apesar de baixo, obtivemos mais de 1500
visualizações em nossos blogs, lista de e-mails e vídeo produzido para 2013; em
praticamente todas as localidades, conseguimos estimular estudantes que podem vir
a militar no Movimento Estudantil e junto à RECC. Apesar de diversos problemas que
encontramos – decorrentes principalmente de escassos recursos financeiros,
dificuldades operativas internas, proibição de propaganda em certas escolas e
coincidência com outras atividades –, em todas as ocasiões conseguimos discutir
os eixos básicos e secundários da SNCC que nos propomos, ou seja, esclarecer as
origens históricas e a importância da retomada do dia a 28 de Março como Dia
Nacional de Luta dos Estudantes, discutimos as reformas na educação nos níveis
superior e básico e a questão do transporte público principalmente com a
bandeira do Passe Livre Irrestrito. Todas estas discussões foram feitas sob o
ponto de vista crítico, sobretudo classista e anti-governista, enfatizando a
necessidade da organização estudantil pela base. Mas se colhemos saldos
positivos, sabemos sem sombra de dúvidas que estes podem e devem melhorar
noutras edições devido a potencialidade do “28 de Março”.
Apesar de não termos sido os precursores da
celebração do 28/03 como Dia Nacional de Luta dos Estudantes, observamos que
desde 2010 quando iniciamos a realização da SNCC com a retomada da data,
diversas organizações, individualidades e – pasmem – até mesmo órgãos de
governo colocaram-se como emissores da propaganda do “Dia do Estudante”, seja
para reproduzir nossos textos, seja com textos, atividades e enfoques próprios.
Desde organizações que se reivindicam libertárias até organizações que se
reivindicam governistas, como a UNE, muitas passaram a marcar posição nesta
data. No caso das governistas, é válido ainda citar o caso de que algumas
destas (como UNE, UBES, MST, Levante popular da Juventude, CUT, CTB, MMM etc.) uniram-se
e lançaram em 2013 uma I Jornada de lutas da juventude exatamente para a mesma
semana em que se celebra o “Dia de Luta dos Estudantes” exatamente para tentar retomar
sua legitimidade a muitos anos em perdida e recolocar o programa dos Partidos
governista (sobretudo PT e PCdoB) para as eleições do ano que vem.
Consideramos
positivo o fato da data estar pouco a
pouco ganhando maior projeção, uma vez que ela pertence a todos
estudantes que,
assim como Edson Luís, ousam lutar por melhores condições de vida e de
estudo. Mas,
se do ponto de vista geral, o 28 de Março deve de fato ser apropriado,
sua
discussão deve ter um mínimo de honestidade e rigor histórico. Assim,
reconhecer o papel da UNE e seus métodos de luta e objetivos durante a
ditadura
significa rejeitar completamente esta entidade na atualidade devido suas funções "anti-luta", por exemplo. Por nossa
parte, apesar de
jamais termos pretendido qualquer espécie de “monopólio” sobre a data,
achamos
mesmo que ela deva pertencer e ser celebrada todos os anos pelas
entidades estudantis
de luta (CA’s, DA’s, DCE’s, Grêmios, Entidades Regionais e Nacionais do
ME
etc.). Apesar disso, manteremos nossa iniciativa em combinar a
celebração do
Dia Nacional de Luta dos Estudantes com a estratégia de reorganização
pela base
do movimento estudantil brasileiro a fim de acabar com a atual tradição
eleitoreira que nos asola. Esta estratégia do trabalho de base se pauta
sobre os
métodos das ações combativas e na aliança com a classe trabalhadora no
dia-a-dia de nossa vidas e lutas, e não somente nos períodos eleitorais
como
fazem os oportunistas “militantes de eleições”. E dentro desta
estratégia, consideramos
pertinente a convocação à todas as organizações e estudantes do Brasil,
que
tenham acordo com a política classista,
combativa, independente e anti-governista para juntarem esforços conosco
na
preparação de um 28 de Março cada ano maior e mais combativo no Brasil!
Unidos somos muitos e organizados somos fortes! E somente assim nós
venceremos
Viva o Dia Nacional de Luta dos Estudantes!
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