quarta-feira, 5 de março de 2014

NÃO TEM DIREITOS?

NÃO VAI TER COPA!


O levante de junho de 2013 determinou um novo momento do pacto governista na luta de classes. Mas, além disso, demonstrou uma nova crise, a do reformismo em si. As massas atropelaram os métodos cupulistas e parlamentaristas do reformismo (PT, PCdoB, PSOL e PSTU), e levantaram a palavra de ordem “Da Copa eu abro mão. Eu quero mais dinheiro pra Saúde e Educação”. O desdobramento prático dessa palavra de ordem é: Se não tem direitos, NÃO VAI TER COPA!
O lema “Não vai ter copa” ecoa por todos os cantos do Brasil, nas mídias sociais, nos muros, nas periferias. A Copa do Mundo de 2014 nos mostrou ao que veio desde os processos de remoções (a “higienização social”), novamente revelando um governo aliado aos interesses privados. Apesar de ser um evento esportivo, a Copa trouxe praticamente nenhum benefício nos esportes para a juventude, já que nossas escolas e bairros continuam sem espaço esportivo adequados e permanece a elitização do futebol, a exemplo dos caros ingressos que a maioria de nós não teremos acesso. Quer dizer, a Copa sempre teve uma classe bem definida, a da burguesia, e não a daqueles que em Junho de 2013 saíram em ação direta contra o Estado.

A maior parte da juventude de junho eram estudantes de escola pública e trabalhadores precarizados, sem direitos ou com poucos destes, vindos de um sistema educacional precário. Sofrem diariamente com escolas caindo aos pedaços, merenda escolar ruim, professores desvalorizados e baixos salários. A Copa também influenciou o calendário letivo de 2014, que terá as férias durante a realização dos jogos: enquanto para o estudante da escola particular isso significará poder ir assistir aos jogos, para o estudante da pública, significará trabalhar durante os jogos.
Junho se mostrou tão combativo, em parte, pela ausência das traidoras entidades que não tinha força para frear um povo que há muito estava contido. Frente ao povo legitimamente combatendo o Estado e a burguesia, o peleguismo de setores estudantis (UNE e ANEL) e sindicais (CUT, CTB, CSP-CONLUTAS) pregavam um pacifismo incoerente às pautas das massas. Pois essas vozes das ruas falavam em educação, saúde, transporte público, necessidades básicas que sempre nos foram negadas, e que portanto devem ser forçosamente arrancadas do Estado. Aos governos e empresários, parasitas que vivem do trabalho de um povo superexplorado, a nossa solidariedade e união mostrou que não queremos os megaeventos, as megaobras: queremos o fim da educação elitista e excludente, queremos liberdade e igualdade aos trabalhadores. E nós iremos tomar as cidades e fazê-las como queremos!
Organizar nas escolas para ir às ruas!
O modelo de entidades que temos atualmente (Grêmios, CA´s, DCE´s, sindicatos, associações de bairro), organizados hierárquica e burocraticamente, não é capaz de dar respostas a essas questões. Isto é consequência do distanciamento que suas direções mantém de suas bases, imortalizando-se no topo de uma estrutura inerte. Levemos a disposição dos movimentos de rua e construamos Centros Acadêmicos, Grêmios e DCEs de baixo para cima. Para isso, é preciso que os estudantes se unam numa rede de Coletivos e Oposições combativos para atuarem conscientemente junto à base com este objetivo de reorganizar o movimento estudantil. Nossa tarefa é: levar a revolta popular para as escolas e organizá-la!
É preciso que as organizações estudantis reivindiquem, por exemplo, melhorias na educação e transporte. Exigindo não somente mais investimento público na educação pública, mas um novo modelo de educação que garanta o acesso livre e universal nas universidades para que os estudantes das escolas públicas não precisem mais passar pelo funil que é o “ENEMbular”.
Repressão ontem e hoje: Ditadura nunca mais!
O dia 28 de Março é para nós, estudantes, uma data muito significativa. Neste dia, há 46 anos, a ditadura fazia Edson Luís o primeiro estudante vítima fatal de sua repressão, que infelizmente herdamos. Acontece que o rumo que tomou a repressão jurídica e policial atualmente não é muito diferente daquela que prendeu e torturou os que se levantaram contra a ditadura civil-militar (1964-1989). Essa data deve ser lembrada por cada estudante combativo que se levantou em junho com as massas populares.
É preciso que o sentimento de junho se alie ao sentimento dos estudantes que combateram a ditadura, a repressão policial e o modelo elitista de educação, reestabelecendo a auto-organização popular em nossas escolas e universidades, dando continuidade ao sentimento de falência das vias tradicionais, partidárias e eleitorais, tão desacreditadas após Junho.
Devemos transformar o 28 de Março numa data de luta, onde paralisemos nossas escolas e universidades para organizar marchas de rua e debater a punição aos torturadores de ontem e de hoje, dos policiais que agridem nossa juventude diariamente. Afinal, sabemos que na favela a bala da polícia mata. Precisamos impulsionar desde já a organização de base nos nossos locais de estudo, tomando o maio de 68 francês como exemplo: construindo uma greve estudantil e, aliados aos trabalhadores, organizar uma Greve Geral Contra a Copa no Brasil.

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