NÃO VAI TER COPA!
O
levante de junho de 2013 determinou um novo momento do pacto
governista na luta de classes. Mas, além disso, demonstrou uma nova
crise, a do reformismo em si. As massas atropelaram os métodos
cupulistas e parlamentaristas do reformismo (PT, PCdoB, PSOL e PSTU),
e levantaram a palavra de ordem “Da Copa eu abro mão. Eu quero
mais dinheiro pra Saúde e Educação”. O desdobramento prático
dessa palavra de ordem é: Se não tem direitos, NÃO VAI TER COPA!
O
lema “Não vai ter copa” ecoa por todos os cantos do Brasil, nas
mídias sociais, nos muros, nas periferias. A Copa do Mundo de 2014
nos mostrou ao que veio desde os processos de remoções (a
“higienização social”), novamente revelando um governo aliado
aos interesses privados. Apesar de ser um evento esportivo, a Copa
trouxe praticamente nenhum benefício nos esportes para a juventude,
já que nossas escolas e bairros continuam sem espaço esportivo
adequados e permanece a elitização do futebol, a exemplo dos caros
ingressos que a maioria de nós não teremos acesso. Quer dizer, a
Copa sempre teve uma classe bem definida, a da burguesia, e não a
daqueles que em Junho de 2013 saíram em ação direta contra o
Estado.
A
maior parte da juventude de junho eram estudantes de escola pública
e trabalhadores precarizados, sem direitos ou com poucos destes,
vindos de um sistema educacional precário. Sofrem diariamente com
escolas caindo aos pedaços, merenda escolar ruim, professores
desvalorizados e baixos salários. A Copa também influenciou o
calendário letivo de 2014, que terá as férias durante a realização
dos jogos: enquanto para o estudante da escola particular isso
significará poder ir assistir aos jogos, para o estudante da
pública, significará trabalhar durante os jogos.
Junho
se mostrou tão combativo, em parte, pela ausência das traidoras
entidades que não tinha força para frear um povo que há muito
estava contido. Frente ao povo legitimamente combatendo o Estado e a
burguesia, o peleguismo de setores estudantis (UNE e ANEL) e
sindicais (CUT, CTB, CSP-CONLUTAS) pregavam um pacifismo incoerente
às pautas das massas. Pois essas vozes das ruas falavam em educação,
saúde, transporte público, necessidades básicas que sempre nos
foram negadas, e que portanto devem ser forçosamente arrancadas do
Estado. Aos governos e empresários, parasitas que vivem do trabalho
de um povo superexplorado, a nossa solidariedade e união mostrou que
não queremos os megaeventos, as megaobras: queremos o fim da
educação elitista e excludente, queremos liberdade e igualdade aos
trabalhadores. E nós iremos tomar as cidades e fazê-las como
queremos!
Organizar
nas escolas para ir às ruas!
O
modelo de entidades que temos atualmente (Grêmios, CA´s, DCE´s,
sindicatos, associações de bairro), organizados hierárquica e
burocraticamente, não é capaz de dar respostas a essas questões.
Isto é consequência do distanciamento que suas direções mantém
de suas bases, imortalizando-se no topo de uma estrutura inerte.
Levemos a disposição dos movimentos de rua e construamos Centros
Acadêmicos, Grêmios e DCEs de baixo para cima. Para isso, é
preciso que os estudantes se unam numa rede de Coletivos e Oposições
combativos para atuarem conscientemente junto à base com este
objetivo de reorganizar o movimento estudantil. Nossa tarefa é:
levar a revolta popular para as escolas e organizá-la!
É
preciso que as organizações estudantis reivindiquem, por exemplo,
melhorias na educação e transporte. Exigindo não somente mais
investimento público na educação pública, mas um novo modelo de
educação que garanta o acesso livre e universal nas universidades
para que os estudantes das escolas públicas não precisem mais
passar pelo funil que é o “ENEMbular”.
Repressão
ontem e hoje: Ditadura nunca mais!
O
dia 28 de Março é para nós, estudantes, uma data muito
significativa. Neste dia, há 46 anos, a ditadura fazia Edson Luís o
primeiro estudante vítima fatal de sua repressão, que infelizmente
herdamos. Acontece que o rumo que tomou a repressão jurídica e
policial atualmente não é muito diferente daquela que prendeu e
torturou os que se levantaram contra a ditadura civil-militar
(1964-1989). Essa data deve ser lembrada por cada estudante combativo
que se levantou em junho com as massas populares.
É
preciso que o sentimento de junho se alie ao sentimento dos
estudantes que combateram a ditadura, a repressão policial e o
modelo elitista de educação, reestabelecendo a auto-organização
popular em nossas escolas e universidades, dando continuidade ao
sentimento de falência das vias tradicionais, partidárias e
eleitorais, tão desacreditadas após Junho.
Devemos
transformar o 28 de Março numa data de luta, onde paralisemos nossas
escolas e universidades para organizar marchas de rua e debater a
punição aos torturadores de ontem e de hoje, dos policiais que
agridem nossa juventude diariamente. Afinal, sabemos que na favela a
bala da polícia mata. Precisamos impulsionar desde já a organização
de base nos nossos locais de estudo, tomando o maio de 68 francês
como exemplo: construindo uma greve estudantil e, aliados aos
trabalhadores, organizar uma Greve Geral Contra a Copa no Brasil. ■
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